O cargo é sobretudo cerimonial, mas de prestígio. Uma petição online (http://www.change.org/petitions/stop-sam-kutesa-from-becoming-president-un-gen-assembly) para impedir que Kutesa se torne presidente da AG da ONU já reuniu cerca de 14 mil assinaturas. No Uganda a homossexualidade é crime: os gays podem ser condenados a prisão perpétua – e quem não os denuncie ou ajude pode também cumprir até sete anos atrás das grades. O Presidente ugandês Yoweri Museveni, no poder vai para três décadas, é um dos maiores apoiantes desta lei promulgada em Fevereiro, sendo também compadre de Kutesa: a filha do futuro presidente da AG da ONU é casada com o filho do Chefe do Estado ugandês.
A proximidade familiar com o poder beneficiou Kutesa, afirmam os seus detractores. O governante de 65 anos já viu o seu nome envolvido em casos de corrupção em que alegadamente teria aceite subornos de companhias estrangeiras que querem explorar reservas de petróleo no Uganda. “Nunca fui condenado por corrupção”, garantiu aos jornalistas após ter sido eleito na ONU.
Sobre a homofobia – nem uma palavra mais crítica por parte dos representantes das Nações Unidas. Em jeito de indirecta, a embaixadora norte-americana na ONU pediu que Kutesa e a AG se concentrem na defesa dos direitos humanos, “numa altura em que há raparigas atacadas por radicais por defenderem o seu direito à educação, representantes da sociedade civil perseguidos e presos por causa do seu trabalho, e lésbicas, gays e transexuais que estão em perigo pela sua orientação sexual, incluindo através de leis discriminatórias”.
Também o secretário geral da ONU, o sul-coreano Ban Ki-moon, se limitou a felicitar Sam Kutesa, recordando-lhe que terá de intensificar os esforços das Nações Unidas no sentido de “pôr fim a todas as formas de discriminação”.
A missão de Kutesa passa por traçar objectivos para a redução da pobreza, o combate às alterações climáticas e a promoção da igualdade de género e empoderamento da mulher. O ugandês foi a escolha apresentada pelos países do continente africano, a quem cabia nomear o novo presidente da AG da ONU, que os restantes Estados-membros depois aprovaram por unanimidade. “Não sou homofóbico e acredito que sou a pessoa certa para liderar esta organização na próxima sessão”, defendeu Sam Kutesa. A ONU concordou.