Jotas escapam a crivo do PS

São 15h30 e ninguém atende no n.º 10 da Rua Camilo Videira, em Lisboa. Visto de fora, nada naquele prédio antigo diz que funciona ali a secção da Penha de França do PS. No n.º 110 da Avenida Almirante Reis a história repete-se. O senhor do quiosque em frente avisa que viu gente a retirar…

Jotas escapam a crivo do PS

Esta terça-feira, primeiro dia de inscrições de simpatizantes no PS para as primárias de Setembro, está a correr-nos mal. Aos jornalistas foi dito que a inscrição poderia ser feita online ou nas mais de 800 estruturas “nacionais, regionais, distritais e locais” do PS. No call center, criado para esclarecer as dúvidas neste processo das primárias, dizem-nos que “o melhor é inscrever-se pela internet”. É que, explicam, as estruturas locais “regra geral só funcionam à noite”. “Não têm funcionários, por isso só abrem para alguma reunião ou quando vai lá alguém”, acrescentam.

No dia seguinte, ainda tentamos a secção de Oeiras. Das janelas abertas da casa cor-de-rosa velho, vemos um retrato de António José Seguro pendurado. O empregado da mercearia avisa-nos que o responsável vai ali todos os dias, mas sem hora certa. A secção da Amadora, paredes-meias com o Bar/Club Copofino, também está fechada, assim como a secção de São Domingos de Benfica, onde a campainha não toca e a cave está às escuras.

Desistimos e rumamos à Federação de Lisboa (FAUL), aberta das 10h às 19h. Para quem preferir inscrever-se presencialmente, as federações parecem ser a opção mais segura. A de Setúbal, por exemplo, está aberta das 14h às 18h para esse efeito.

Os simpatizantes têm de concordar com a declaração de princípios do PS e assinar a ficha de inscrição em como não são militantes de outro partido. Dizemos que somos da JCP (Juventude Comunista Portuguesa) e quem recebe a nossa ficha fica com dúvidas. É chamada uma segunda pessoa que afirma que os membros das juventudes partidárias não são militantes e, portanto, a inscrição é aceite.

Questionada sobre se os jotas de outros partidos podem inscrever-se como simpatizantes, fonte oficial da comissão eleitoral – presidida por Jorge Coelho e criada para acompanhar o processo das primárias – diz-nos que se aplica o mesmo estatuto que aos militantes. “Não podem fazer parte de nenhum partido ou de nenhuma juventude partidária que esteja afecta”. Duas interpretações de um regulamento eleitoral que é omisso sobre as juventudes partidárias.

Estas têm um estatuto diferente, já que os membros não são obrigados a ser militantes dos partidos. Prova disso é o facto de os membros da Juventude Socialista (JS) não terem acesso automático ao voto: têm de  inscrever-se como simpatizantes ou militantes, segundo a mesma fonte.

Contudo, também ninguém vai verificar se um simpatizante é militante de outro partido. Jorge Coelho já disse que vai acreditar na “boa-fé” dos cidadãos. Os cadernos eleitorais vão ser públicos e distribuídos às duas candidaturas que podem fazer queixa se encontrarem anomalias. E será que vão conseguir distinguir, por exemplo, um militante de outro partido de Freixo de  Espada à Cinta? 

 Testámos, ainda, o sistema online que não deixa fazer duas inscrições com o mesmo número de identificação.  O simpatizante,  após submeter a ficha, recebe um código por e-mail que se deverá levar no dia da votação, que tem de ser presencial,  e onde será verificada a assinatura.

Antónios atropelam-se em campanha

António José Seguro e António Costa já percorrem o país em campanha de Norte a Sul e na terça-feira, dia em que arrancou a inscrição dos simpatizantes, marcaram intervenções com apenas meia hora de diferença. Costa preparou uma conferência, no Largo do Rato, para as 12h, onde puxou dos galões, dizendo que “a maior garantia” de um político é dar provas do trabalho realizado. Quinze personalidades independentes inscreveram-se como simpatizantes para apoiar Costa, não sem antes elogiar o autarca de Lisboa.

Às 12h30, no Parlamento, Seguro mostrava-se “muito satisfeito” pelo facto de, por sua iniciativa, sublinhou, o PS aderir a uma “nova forma de fazer política”, apesar da contestação inicial.

sonia.cerdeira@sol.pt