“Deve ser do calor, mas pareceu-me ver o Secretário-Geral do Partido Socialista dedicar-se à prática da insinuação canalha sobre o seu próprio partido”. O comentário, feito no Facebook, é do deputado João Galamba, apoiante de António Costa, à entrevista de António José Seguro, na revista Visão, onde o líder socialista afirmou que o PS associado aos negócios e interesses apoia Costa. “É o ‘centrão’ dos negócios”, comentou por sua vez João Soares, apoiante de Seguro. De ambos os lados da barricada, as redes sociais servem para fazer campanha. Mas a luta online é sempre mais agressiva.
“É um meio mais informal e por isso os apoiantes aproveitam as redes sociais para desferir ataques, numa linguagem mais assertiva e mais agressiva”, afirma ao SOL o politólogo António Costa Pinto.
Os perfis destes apoiantes são normalmente públicos. Alguns optam por partilhar apenas fotos das iniciativas de campanha, notícias ou discursos. Outros vão mais longe e fazem comentários críticos e irónicos. “‘Seguro pede a Costa que deixe de o imitar’, queria comentar a frase, mas acho que se comenta a si própria não é?”, diz o deputado Pedro Delgado Alves. A ironia mereceu o like do ex-presidente do Governo Regional dos Açores, Carlos César, e um comentário da ex-Secretária de Estado da Igualdade, Elza Pais: “É caso para dizer, descubra as diferenças!”
António Costa tem o apoio de membros mais notáveis no partido e, por isso, a presença nas redes sociais é mais notada. Os deputados João Galamba, Isabel Moreira e Pedro Delgado Alves, constam entre os mais activos e polémicos. “Ataques pessoais? Nem um. Esses, como sabemos, estão por conta de outros”, este é um excerto de um comentário de Isabel Moreira à entrevista de António Costa, na Visão. Mas também a ex-eurodeputada, Edite Estrela, Carlos César, os deputados Pedro Marques, Miguel Coelho, Ana Paula Vitorino e André Figueiredo ou o vereador da Câmara do Porto, Manuel Pizarro, vão contribuindo para animar a campanha nas redes sociais.
Do lado de Seguro, destacam-se os dirigentes nacionais Eurico Brilhante Dias e António Galamba, o deputado João Soares e o eurodeputado Carlos Zorrinho. “O pagode que para aí vai com as bases de dados. Até o meu colega de frente a frente na SIC Notícias recebeu!”, comentava Brilhante Dias sobre o facto de um e-mail da campanha de Costa ter chegado ao ex-deputado do PSD, José Eduardo Martins.
Nas caixas de comentários, chega a haver troca de acusações entre seguristas e costistas, uns notáveis, outros anónimos. Às vezes, resvalam para o insulto. “É inevitável. Tento apagar algumas coisas que considero excessivas, mas faz parte das vicissitudes das redes sociais”, diz João Galamba.
Apesar dos contras, já todos os partidos perceberam as vantagens das redes sociais em campanha. Tanto Costa como Seguro criaram páginas próprias das candidaturas, onde vão avisando sobre as datas das iniciativas por todo o país, servindo também para demonstrações de força. Muitas das fotos mostram auditórios cheios de pessoas, Seguro e Costa rodeados de militantes, sorrisos, apertos de mão. A página Mobilizar Portugal, de Costa, tem quase 25 mil seguidores, enquanto a página Seguro 2015 conta apenas com 8 mil. No entanto, o Secretário-Geral do PS tem uma página oficial com quase 55 mil seguidores onde coloca visitas feitas como líder do PS e alguns comentários – o último é de quarta-feira, sobre a situação no BES. Já o presidente da Câmara de Lisboa não tem qualquer perfil público.
Como as próximas eleições do PS serão abertas, Seguro e Costa têm de conquistar votos de simpatizantes que, por regra, não vão às iniciativas do partido. E aí as redes sociais podem ganhar uma importância acrescida.