Tiririca, que em 2010 usou o slogan “Vote no Tiririca, pior do que está não fica”, apresentou-se este ano lançando um novo desafio aos eleitores: “Tá de saco cheio da política? Vote no Tiririca”. Há quatro anos, o actor, cantor e humorista foi eleito com 1 milhão e meio de votos e acabou como o candidato para a Câmara dos Deputados mais votado em todo o país. Nestas eleições, e já sem o efeito surpresa, vai ter de continuar a apostar na paródia e na crítica à classe política para renovar a confiança dos eleitores, independentemente das propostas eleitorais que continuam por conhecer. No primeiro tempo de antena de apelo directo ao voto, e em 1 minuto e 25 segundos, o deputado imitou Roberto Carlos, satirizando a publicidade que o cantor fez para uma empresa brasileira de distribuição de carnes.
Francisco Everardo Oliveira Silva, 49 anos, casado, nasceu no Ceará e ficou conhecido em todo o Brasil no final dos anos 90 com a música ‘Florentina’, que se tornou um sucesso nacional. Em 2009, filiou-se no PR e surpreendeu tudo e todos ao surgir como candidato no ano seguinte. Na ficha de candidatura apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Tiririca indica que a sua nacionalidade é “brasileira nata” e que “sabe ler e escrever”. Em 2010, durante a campanha, foi noticiado que o Ministério Público Eleitoral do Brasil iria retirar a sua candidatura na sequência de denúncias de que o então candidato não sabia ler.
Nestes quatro anos em Brasília, Tiririca não teve uma presença muito notada e não chegou a escandalizar como parlamentar, como foi previsto depois de ter sido eleito. A relação do deputado Tiririca com os eleitores, seja através de iniciativas próprias ou através das redes sociais, é quase inexistente e, segundo alguns jornalistas brasileiros, o parlamentar terá ordens do partido para se manter afastado da comunicação social e não prestar declarações. Tiririca é deputado efectivo na comissão de Cultura e não faltou a qualquer sessão de votação, mas nem a assiduidade lhe chegou para ver aprovado um único projecto de lei da sua autoria (cerca de 30).
500 candidatos condenados pela justiça
Este ano concorrem às eleições presidenciais brasileiras 25 mil candidatos (24,9 em rigor), segundo o TSE. Só para o cargo de deputado estadual concorrem 16,2 mil candidatos e para deputado federal 6,7 mil. No distrito federal (Brasília) existem 1000 candidatos ao cargo de deputado distrital e 181 candidatos para Senador, incluindo primeiro e segundo suplentes. Em todo o país há 171 candidatos a governador e a vice (dos 26 estados brasileiros), 11 candidatos a Presidente do Brasil, entre eles Dilma Rousseff, Marina Silva e Aécio Neves, e respectivos candidatos a vice.
De acordo com o portal G1, quase 500 destes candidatos foram contestados na Justiça Eleitoral por não obedecerem aos requisitos previstos na Lei da Ficha Limpa, entre eles a impossibilidade de cidadãos e cidadãs condenados por tribunais poderem concorrer a cargos electivos. O TSE, ainda de acordo com o mesmo órgão de informação, começou a julgar esta terça-feira a possibilidade ou não destes candidatos se manterem na corrida eleitoral e de se apresentarem a votos no dia 5 de Outubro.
Entre tantos candidatos, e depois do sucesso nas urnas de Tiririca, os partidos apostam em figuras conhecidas como ex-jogadores de futebol, apresentadores de televisão, actores, ex-concorrentes do Big Brother Brasil (que vai para a 15.ª edição) e até um actor de filmes pornográficos. É o caso de kid Bengala, nome artístico de Clovis Basilio dos Santos, 59 anos, candidato do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) a deputado estadual de São Paulo que vai disputar votos com ‘Everaldo da Loja’, nome com que José Everaldo da Silva, 44 anos, comerciante, irá aparecer na urna para tentar ser eleito para deputado estadual pelo Partido Social Democrático ou com ‘Adelaide do SOS Justiça’, nome com será identificada Adelaide Pereira de Sousa, 50 anos, advogada, que tenta o lugar de deputada federal nas listas do Solidariedade.
O cigano Igor, personagem da telenovela ‘Explode Coração’ (Rede Globo, 1995) que ficou eternizado pelo actor Ricardo Macchi, foi umas das apostas do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) para deputado federal pelo Rio Grande do Sul. Aos 49 anos, Macchi volta a usar o nome do seu primeiro (e mais popular) personagem na televisão para conquistar um estado com 11,6 milhões de habitantes e onde votam 5,9% dos eleitores brasileiros. No boletim de voto electrónico o candidato irá aparecer com o nome ‘Ricardo Macchi (cigano Igor)’ e irá disputar eleitores, por exemplo, com “Dona Rosa” (Rosa Fatima Melo dos Santos da Silva, 52 anos), candidata do Partido Social Cristão a deputada em Brasília.
No Rio de Janeiro, Romário de Souza Faria, ou simplesmente Romário, tenta o lugar de senador depois de ter sido eleito deputado federal pelo PSB em 2010, um ano depois de se ter filiado no partido. Nomeado pela FIFA, em 2010, como um dos cinco maiores jogadores da história, o Baixinho, como era conhecido no futebol, aspira agora o restrito cargo de senador do Rio de Janeiro confiante que está nos quase 147 mil votos que lhe valeram a eleição há quatro anos. A candidatura de Romário, que conta ainda com o apoio do Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula da Silva e de Dilma Rousseff e do Partido Comunista do Brasil (PCB), foi impulsionada e apoiada por Eduardo Campos.