2. O que pretendeu então António Costa? Três objectivos. A saber:
3. I) O objectivo principal foi o de quebrar a insinuação da candidatura de António José Seguro de que Costa já está a preparar um Governo de coligação com o PSD liderado por Rui Rio. Isto porquê? Porque este é o argumento mais forte de Seguro – e, consequentemente, o mais letal para Costa. É que António Costa está a apostar em vender a sua imagem de homem que consegue construir pontes entre múltiplas forças políticas desavindas, entre personalidades políticas aparentemente incompatíveis e, logo, poderá formar governos estáveis com qualquer partido (refere até que despreza o conceito de “arco de governação”): não pode, pois, assumir que a sua convicção é a de que já não poderá ir à maioria absoluta e terá mesmo de formar Governo com o PSD. Se o fizesse, António Costa perderia a ala esquerda do PS –e a desilusão geral dos seus apoiantes e simpatizantes, que estão consigo (uma parte considerável) porque são contra o Governo e contra o PSD;
4. Ii) Por outro lado, ao afirmar que o seu adversário é Rui Rio, António Costa assume-se já como vencedor das primárias – e candidato a Primeiro-Ministro pelo PS. De facto, ao disparar contra Rui Rio, António Costa implicitamente associa Passos Coelho ao passado, já pré-morto politicamente, com uma derrota certa nas legislativas de 2015 – e Rui Rio como líder da oposição em 2015. No fundo, António Costa – para mostrar confiança – já está a apresentar o discurso que assumirá em 2015.
5. Iii) Por último, António Costa quer desgastar objectivamente Rui Rio e, consequentemente, o PSD. Como? É simples: ao lançar o nome de Rio, as atenções mediáticas estarão centradas nas movimentações do ex-autarca: tudo o que Rui Rio fizer doravante será objecto de uma leitura política. Será tudo integrado na sua caminhada rumo à liderança do PSD. Ora, toda esta atenção mediática sem que Rui Rio tenha condições para avançar neste momento significa já “queimar” gradualmente o nome mais forte para a sucessão de Passos Coelho: uma coisa é Rui Rio aparecer fresco, cheio de vigor, em 2015 – ou aparecer já como nome adquirido ou como o líder antecipado, depois de avanços e recuos sucessivos, reais ou ficcionados. Além disso, as bases que ainda não estão preparadas para largar Passos Coelho (e não gostam de perder eleições), em caso de derrota expressiva de Passos, culpabilizarão Rui Rio pelo desastre.
António Costa é exímio nestes truques políticos – mais do que a fazer obra (como ele diz) ou a pensar em medidas para reformar Portugal. Note-se, ainda, que António Costa é um caso único na política portuguesa: é o único agente político que consegue viver serenamente com a promiscuidade entre a política partidária, a política autárquica e a comunicação social. É normal um candidato às primárias do PS dar uma entrevista nos Paços do Concelho, sentado na sua poltrona do poder de edil da capital portuguesa, no mesmo dia em que sai uma crónica sua num jornal diário e fazendo menção ao seu programa televisivo? Com a agravante de que Costa faz considerações, como comentador, sobre as directas do PS, em que ele é candidato…Mundo muito confuso este!