‘Rui Rio não é candidato a coisa nenhuma’

O vice-presidente do PSD, José Matos Correia, recusa a ideia de que não aumentar agora impostos no Rectificativo seja uma vitória de Paulo Portas e espera um Orçamento “realista” para 2015, sem sinais de eleitoralismos.

Não aumentar impostos é a prova de que não fazia sentido dramatizar os chumbos do TC?

Eu não julgo que quer o Governo quer a maioria tenham dramatizado a questão. Colocaram-na nos termos em que tem de ser colocada. É verdade que este ano – graças a um conjunto de factores favoráveis, como o aumento da receita fiscal, ou a diminuição do desemprego – vai ser possível cumprir o défice de 4%. Mas continuam a ser necessárias medidas de fundo para a sustentabilidade das contas públicas.

Esta 'almofada' é conjuntural?

Não há uma 'almofada'. Haverá no dia em que tivermos superavit. Ou seja, quando tivermos mais receita do que despesa.

As reformas estruturais ficarão para a próxima legislatura?

As reformas estruturais têm vindo a ser feitas. Não são é suficientes. É preciso mais. Ainda há muito a fazer para garantir que Portugal tem contas públicas sustentadas. E isso exige um conjunto de medidas estruturais adicionais. A Segurança Social é um problema evidente.

Este Orçamento Rectificativo é uma vitória de Paulo Portas?

Não conduzo o meu raciocínio político por opiniões de comentadores.

Vários jornais noticiaram que foi ponderado no Governo um aumento do IVA. Não foi só Marques Mendes quem o disse. 

A única informação que eu tenho por correcta e válida foi a declaração do primeiro-ministro, a dizer que não está nem nunca esteve em cima da mesa um aumento de impostos para o Rectificativo.

Não aumentar impostos pode ser visto como uma vitória do CDS?

Não aumentar impostos não é uma vitória de ninguém. É a demonstração de que é possível fazer um trabalho responsável e que só aumentamos impostos quando temos absolutamente de o fazer. E que, se houver outras soluções, privilegiamos outras soluções.

Antes do Verão, foi dito por responsáveis do PSD e do CDS que era urgente negociar a coligação. A urgência desapareceu?

Encaramos a questão da coligação com a maior das tranquilidades. O Governo está a funcionar com normalidade, houve moções de estratégia, quer do presidente do PSD quer do presidente do CDS, que mencionam a questão e foram aprovadas nos congressos. Julgo que o início do ano que vem será a altura para iniciarmos um processo de negociações sobre essa matéria.

Só no início do ano que vem?

Sim. Há tempo para tudo. E este não me parece o tempo. Há outras questões que o Governo tem de resolver. Encaramos isso com a maior das normalidades.

Não dá como certa a coligação?

Os partidos, através das moções de estratégias apresentadas, definiram a sua posição sobre essa matéria. E, portanto, com naturalidade, quando o momento chegar, falaremos sobre isso.

O que mudou desde que Marco António Costa disse que era urgente negociar a coligação?

As declarações foram feitas para manifestar uma disponibilidade. Essa disponibilidade mantém-se para as negociações ocorrerem num momento que nos pareça adequado em função dos ciclos políticos e dos acontecimentos que no dia-a-dia têm de ser geridos.

O PSD e o CDS não correm o risco de parecer, depois, condicionados pelo novo líder do PS?

Acho exactamente o contrário. Qualquer tentativa de negociar à pressa uma coligação, tendo em conta as primárias do PS, podia ser vista como uma ligação directa com o que se passa no PS. Qualquer confusão nessa matéria será negativa.

O líder socialista ser António Costa ou Seguro muda o quê?

Para nós, não muda nada. E julgo que nem para nós nem para o país, porque não vejo que haja alguma diferença de substância. Pode haver diferenças de forma, isso há sempre. Do ponto de vista do conteúdo, o que vejo é um partido que se dilacera com acusações e em que cada um diz que as ideias que tem foi o outro que as copiou.

O que espera do OE 2015?

Espero que vá ao encontro das necessidades dos portugueses e que seja credível, realista e adequado ao cumprimento dos nossos compromissos. É essencial essa ideia de realismo. Temos de ter um Orçamento que não demonstre qualquer tipo de preocupações eleitoralistas. Os portugueses não entenderiam que tenhamos feito todos os sacrifícios que fizemos para caminhar depois por uma via de facilidades e eleitoralismo.

Será impossível o Governo deixar cair ou atenuar a sobretaxa do IRS em 2015?

Sou vice-presidente do PSD, não sou membro do Governo. O que posso dizer é o que a direcção política e eu em particular entendemos o que o Orçamento deve ser: um OE realista. Ou seja, para o qual as pessoas olhem e percebam que segue a linha de seriedade que tem vindo a ser percorrida e que não muda de repente porque há eleições.

O que vai marcar este último ano da legislatura?

Conhecendo o primeiro-ministro, tenho a confiança absoluta de que este último ano de legislatura será marcado pela mesma postura de seriedade e realismo que sempre marcou a sua atitude. Espero um Governo que continue tão empenhado como tem estado em manter o rumo das reformas, em ir ao encontro das dificuldades que os portugueses passam, em compreender que aqueles que são mais sacrificados possam de alguma forma ser amparados e apoiados. Essa é linha que tem sido seguida desde que o Governo entrou em funções.

É assim que se ganham eleições?

As eleições ganham-se pelo mérito do que se faz. Estou convicto de que os portugueses reconhecerão que aquilo que o Governo tem vindo a fazer é aquilo de que o país carecia e reconhecerão também que os números quer do crescimento económico quer da queda significativa do desemprego são a prova mais do que evidente de que este é o caminho que tinha de ser seguido.

Faz sentido António Costa dizer que o seu adversário será Rui Rio?

Os políticos, às vezes, têm o hábito de tentar arranjar frases para fazer cabeçalhos de jornais. Acho que foi essa a preocupação de António Costa.

Dentro do PSD essa é uma ideia que não colhe?

Não colhe no PSD, não colhe no PS, não colhe no país. Rui Rio não é, que eu saiba, candidato a coisa nenhuma. 

É no início de 2015 que se deve desenhar a estratégia para as presidenciais?

A estratégia para as presidenciais está desenhada também na moção apresentada ao Congresso e que define um perfil. Mas há um ponto essencial: as candidaturas presidenciais são pessoais, não são partidárias. São os candidatos que têm de se apresentar.

O único a manifestar claramente disponibilidade foi Santana Lopes…

Uma coisa é dizer que se tem vontade, outra coisa é chegar-se à conclusão de que se tem ou não condições. Santana Lopes ou Marcelo Rebelo de Sousa ou Rui Rio ou Marques Mendes ou outras personalidades podem fazer as leituras que quiserem e podem tomar as decisões que entenderem. Nós é que não temos, enquanto direcção política do partido, de fabricar candidatos presidenciais.

Santana Lopes encaixa no perfil da moção de Passos Coelho?

Não me cabe a mim encaixar personalidades em perfis. As presidenciais não são a eleição de uma pessoa, são a eleição de uma pessoa que tem um programa de acção. Não escolhemos pessoas com cheques em branco. Enquadrar uma personalidade num perfil não tem sentido se essa personalidade não apresentou um programa político.

O facto de Guterres avançar à esquerda muda alguma coisa?

Se calhar, no PS. António Guterres tem toda a legitimidade para ser candidato presidencial: tem mais de 35 anos e está na posse dos seus direitos políticos. Se quer ou não ser candidato presidencial é um problema pessoal dele. Se vai ou não ser apoiado pelo PS é um problema do PS e dele. Apenas digo o seguinte: os portugueses não esqueceram ainda que foi o pântano criado pelo engenheiro Guterres que esteve na origem dos problemas que o país hoje vive e que foi o pântano que o levou a sair num momento de dificuldade.

margarida.davim@sol.pt