Já na Nigéria, “novas provas de crimes de guerra, incluindo execuções e outras violações graves dos direitos humanos estão a ser feitos no Nordeste, pelos militares”, afirmou a AI, há dois meses, com base em imagens e vídeos chocantes.
Há imagens de civis despejados em valas comuns depois de lhes terem cortado as gargantas por homens da Civilian Joint Task Force (CJTF), milícia patrocinada pelo Estado nigeriano.
Tanto o Governo iraquiano como o nigeriano deparam-se com grupos jihadistas – Estado Islâmico e Boko Haram – que cometem todos os dias atrocidades em nome da criação de um califado e da implantação da lei sharia (lei islâmica). Contudo a forma como os governos destes países actuam é, em muitos casos, similar aos grupos extremistas, pois agem também de forma sectária e atroz.
“As milícias operam juntamente com as forças do Governo. A cooperação vai desde o consentimento tácito de coordenadas, até a operações conjuntas”, diz o relatório divulgado esta quarta-feira, referindo-se ao Governo iraquiano.
Aproveitam o clima de anarquia e de impunidade instalada no país – desde Junho, quando as forças governamentais perderam o controlo de grande parte do Norte iraquiano para o grupo armado sunita EI – “para raptar e matar sunitas, sendo a única justificação plausível a vingança”. A AI documentou dezenas de casos de sequestros e assassínios, praticados pelas milícias em Bagdade, Samarra e Kirkuk.
O Ministério da Saúde iraquiano confirmou à AI que nos últimos meses tem recebido dezenas de corpos não identificados com ferimentos de balas na cabeça e, muitas vezes, de mãos atadas com algemas de metal, plástico ou de pano. As milícias estão também a receber dinheiro de resgates, mas isso não é garante de sobrevivência, já que a AI tem conhecimento de dezenas de famílias que pagaram pela libertação dos seus familiares, contudo, acabaram executados.
“Os membros do Boko Haram e de outros grupos armados são responsáveis por crimes hediondos, mas o papel dos militares deve ser defender as pessoas e não de realizar novos abusos", disse Salil Shetty, secretário-geral da AI.
Miguel Mâncio