Vistos gold preocupam imobiliário

Depois do programa dos vistos gold ter vindo impulsionar o mercado imobiliário, eis que rebenta a bomba sobre a corrupção nas atribuições de vistos. O problema coloca em causa a confiança na economia e o imobiliário é um dos sectores mais afectados. O programa captou, em Outubro, 108,3 milhões de euros de investimento estrangeiro no…

Vistos gold preocupam imobiliário

A polémica que envolve o programa pode ser desastrosa, mas Reis Campos, presidente da CPCI – Confederação Portuguesa da Construção e Imobiliário, quer acreditar em poucas consequências. “O programa é bom, os nossos activos apresentam uma atractividade inquestionável, pelo que esperamos que rapidamente se possa estabelecer uma clara separação entre a questão judicial e as virtudes e benefícios deste mecanismo”, adianta.

Também Luís Lima, presidente da APEMIP – Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal, revela que qualquer escândalo com impacto mediático prejudica os sectores, directa ou indirectamente envolvidos. “Estamos perante um caso de polícia que está a transformar-se numa peça da luta política e até ideológica. A envolver, deliberadamente ou não, sectores económicos que só circunstancialmente podem ser citados”, esclarece.

O responsável admite mesmo que quem diz que os vistos gold são um instrumento facilitador de ilícitos de natureza criminal sem interesse para a economia, nomeadamente pela criação ou manutenção de emprego, “está a ser pouco ou nada rigoroso e a diabolizar o investimento”.

Reis Campos acrescenta que o elemento confiança é uma variável fundamental, “pelo que a grande prioridade é salvaguardar a manutenção desta confiança, que tem permitido a obtenção dos resultados”.

Também Pedro Rutkowski, CEO da Worx, entende que o escândalo poderá influenciar o investimento estrangeiro. “Ainda que as autoridades o estejam a tratar com bastante celeridade, toda a publicidade negativa irá demover alguns investidores privados ou promotores, que se encontram associados a este tipo de investimento”, esclarece.

Luís Lima salienta ainda a própria demissão do ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, que pode ser mal entendida. Admite que tudo isso não ajuda à recuperação do sector imobiliário, que tinha encontrado nestes empresários uma âncora muito significativa. “Os investidores que compram imóveis para reabilitação turística, ou quando adquirem posições em resorts já a funcionar, estão a proporcionar a criação de emprego e a manutenção do já existente”, refere Luís Lima.

Mais de cinco mil postos de trabalho em três meses

A par do Regime de Tributação de Residentes Não Habituais, nenhum programa atraiu tanto investimento para Portugal tão rápido. Só no 3.º trimestre do ano foram criados 5.200 empregos no imobiliário e 18.500 nas empresas de construção. Números avançados por Reis Campos, defendendo o investimento externo como “o grande motor desta criação de emprego, o que não pode ser ignorado nem desvalorizado”.

Luís Lima garante que boa parte do prejuízo já causado é irreversível. “Mas é possível e desejável minimizar a situação, resguardando programas como os vistos gold ou o regime especial para residentes, que devem ser aprofundados, nomeadamente por incentivos maiores para regiões do país menos procuradas, como o interior”, conclui.

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