“A Europa não pode morrer às mãos dos bancos”

António Costa aproveitou o seu discurso inicial no congresso que o consagra como secretário-geral do PS para rejeitar acordos com o Governo de direita, apresentar a sua agenda para a década e exigir uma atitude combativa perante uma Europa insensível ao sofrimento dos mais atingidos pela crise. 

“A Europa não pode morrer às mãos dos bancos”

"A Europa que nasceu da democracia ateniense não pode morrer às mãos dos bancos, ou do Banco Central", disse Costa.
 
Muito aplaudido pelos congressistas, o novo líder entusiasmou mais quando recuperou algumas das bandeiras e medidas dos Governos de Sócrates, como o Simplex, as Novas Oportunidades e as políticas de combate à desigualdade.
 
A contestação ao Governo e a afirmação de uma política alternativa ocuparam a maior parte do discurso de cerca de uma hora. "Um Governo que apostou na divisão e no confronto permanente" e que, "em vez de oferecer confiança, gerou desconfiança e intranquilidade", atacou. 
 
Os confrontos do Executivo PSD e CDS com o Tribunal Constitucional, com os funcionários públicos, com os desempregados, as divisões criadas entre as gerações, pondo pais contra filhos, causaram fracturas na sociedade, sustentou, contrapondo com um apelo "à unidade de todos os portugueses".
 
Um Governo que "não fez um único Oraçamento do Estado que não se confrontasse com Constituição", que gerou "pobreza infantil e juvenil" que "é uma bomba ao retardador sobre a próxima geração", e que nem assim recuperou as contas públicas, criticou.
 
"Apesar deste governo ter usado e abusado da austeridade", apesar de ter usado "programa radical de privatizações", dos cortes na saúde e educação, nos salários e pensões, "o Governo fracassou no seu objectivo de controlar e diminuir a dívida pública, pelo contrário", subiu até ao 130 por cento do PIB, reiterou.
 
Depois deste diagnóstico, o novo líder do PS disse que é impossível ao PS entrar em entendimentos sobre políticas fracassadas. "E quer então o senhor primeiro-ministros convidar-nos para compromissos?", perguntou, para logo concluir: "Os compromissos que esta maioria deseja é amarrar-nos à pedra que nos arrasta para o fundo com eles".
 
A agenda do PS, que António Costa passou a apresentar quer "devolver ao país uma visão sobre o seu futuro". É feita com "a valorização dos nossos recursos, das pessoas, do nosso território". E recupera alguma medidas de Sócrates, que os socialistas aplaudiram. Do simplex, à aposta na escola pública e na ciência.
 
"Não acreditamos que seja possível governar bem no presente se não tivermos um rumo, uma visão estratégica", disse, atacando de novo o actual Governo. "Se este Governo tivesse visão estratégica já se tinha ido embora", atirou Costa.
 
A parte final do discurso foi dedicada à Europa, afirmando uma linha de resistência às políticas de austeridade e defendendo a coerência dos socialistas, aconselhando-os a não fazer cedências às políticas neo-liberais.
 
"O PS é um partido de resistentes, não de desistentes, não desistimos de ser socialistas e de ser europeus", proclamou. 
 
Aproveitando as palavras do primeiro-ministro italiano Matto Renzi, o líder do PS exigiu a "devolução dos valores" numa nova agenda europeia. "Não podemos ter uma moeda única que não tem benefícios partilhados por todo. Uns ganham e outros sofrem. Temos de corrigir assimetrias".
 
A agenda para a Europa de Costa passa ainda por um "programa de recuperção económica e social". O líder do PS elogiou o plano Juncker "insuficiente, mas que vai no bom sentido", por apostar no investimento, na inovação e na ciência. 
 
Portugal precisa de uma voz mais forte na Europa, o "novo espaço de combate político democrático" e para isso precisa de um novo Governo, disse Costa.
 
O líder do PS terminou com um apelo ao conclave socialista. "Este congresso não é para olharmos para nós próprios, não é para olharmos uns para os outros, é para olharmos para os portugueses".

manuel.a.magalhaes@sol.pt