PSD atrasa coligação

Não há pressas. É essa a mensagem que Pedro Passos Coelho tem passado no PSD sobre a renovação do acordo de coligação com o CDS. “Há muitas variáveis a analisar”, aponta um vice-presidente social-democrata. A viragem à esquerda de António Costa no PS e o impacto do caso Sócrates são dados novos que pesam na…

PSD atrasa coligação

Uma história aos ziguezagues

A história da renovação da coligação tem sido feita de ziguezagues neste último ano, com recuos e avanços de ambos os lados em relação ao timing para formalizar o acordo.

Em Junho, o vice-presidente do PSD Marco António Costa defendia que “seria útil que rapidamente se pudesse olhar para uma coligação para o futuro”. Na altura, os centristas responderam que não havia pressa. E o discurso mudou rapidamente do lado do PSD.

No fim-de-semana passado, foi a vez do CDS mostrar vontade de dar já o pontapé de saída para as negociações. “Quanto mais cedo a coligação com o PSD se decidir, pior será para o PS e melhor para o esforço de campanha que será feito”, alertava ao DN no sábado Nuno Melo, vice-presidente de Paulo Portas.

A disponibilidade demonstrada pelo dirigente centrista não tem, contudo, eco nas últimas declarações do líder do PSD sobre o assunto. “Faltam quase dez meses até às eleições”, lembrou Passos Coelho, que considera que essa “é uma matéria que os partidos irão avaliar, com certeza no próximo ano”. Passos usou mesmo de ironia quando questionado pelos jornalistas sobre o tema: “Qual coligação, peço desculpa?”.

A ideia foi matar a questão, tentando que a discussão não se faça na comunicação social. Dentro dos dois partidos continua a acreditar-se que PSD e CDS irão juntos às eleições do próximo ano, mas também não restam dúvidas de que o acordo só será anunciado depois de todos os pontos negociais estarem acertados entre os líderes dos dois partidos. “É um assunto que será com certeza definido ao mais alto nível, apenas entre Passos e Portas”, assegura um dirigente do PSD.

Anúncio para dar pontapé de saída para a pré-campanha

Apesar de o momento do anúncio estar apenas na cabeça dos dois líderes, entre os sociais-democratas arrisca-se que possa acontecer até ao final do primeiro trimestre de 2015.

No PSD há quem defenda mesmo que a renovação da coligação pode ser  um bom arranque para a pré-campanha. “Seria bom aproveitar o momento, já por uma questão de ordem táctica, para alavancar as eleições”, aponta ao SOL um vice-presidente social-democrata, que vê nessa altura uma oportunidade para galvanizar as hostes dos dois partidos.

Por outro lado, adiar esse momento terá também a vantagem de evitar o prolongar de negociações de listas entre PSD e CDS, que seguramente não serão pacíficas, sobretudo com as sondagens a antecipar uma queda eleitoral à direita. “Como é óbvio, cada partido defenderá os seus interesses e os acertos finais poderão criar algum atrito”, admite a mesma fonte.

Evitar guerras nos jornais

Todas as disputas por lugares em listas que possam vir a público poderão ser trunfos para a oposição. E na coligação ninguém quer arriscar prolongar esse debate e muito menos deixar que ele se faça nos jornais.

Por outro lado, as divergências que o CDS não se tem coibido de manifestar fazem com que entre os sociais-democratas não haja pressa em anunciar a coligação. Esta será também uma forma de o PSD deixar claro o desagrado por estas atitudes, mesmo que na direcção não se veja nelas motivo para não renovar a coligação. 
Casos como da recuperação do feriado do 1.º de Dezembro ou as declarações do ministro da Economia Pires de Lima, que garantia na semana passada não saber da tolerância de ponto concedida pelo Governo à Função Pública, não passam em branco no PSD. “São atitudes que estão no ADN do CDS e que ficam com eles”, comenta outro vice-presidente social-democrata.

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