Cultura dá um ar da sua graça

SEC tem mais dotação orçamental e abre concursos de apoio às artes. Umberto Eco, Panda Bear ou Tiago Rodrigues vão marcar 2015.

Política cultural 

Galo no Rio, 
coches em Belém

No princípio do ano vão ser abertos concursos públicos de apoio à criação artística e à produção audiovisual com montantes mais elevados – garantia dada pelo secretário Jorge Barreto Xavier. A Secretaria de Estado da Cultura (SEC) terá mais 10% do que em 2014 (219,2 milhões de euros). 
A inauguração do novo Museu dos Coches, em Maio, a requalificação do Promontório de Sagres, em Outubro, e a primeira fase da Casa do Passal/Casa de Aristides de Sousa Mendes e respectiva exposição (Abril) são os momentos de brilho da SEC. E o nosso país estará representado nas comemorações dos 450 anos do Rio de Janeiro com um galo gigante de Joana Vasconcelos (Junho), e na exposição 'Iberian Suite' (Março), no Kennedy Centre, em Washington.

Livros

Duplo Eco
Na literatura de não-ficção, o destaque vai para O Estranhíssimo Colosso (Quetzal), biografia de Agostinho da Silva por António Cândido Franco, e para Umberto Eco, de quem sairão o monumental Storia delle Terre e dei Luoghi Leggendari (Gradiva) e o quarto e último volume da série Idade Média (Dom Quixote). Guarde ainda espaço na estante para Ordem e Decadência Política (Dom Quixote), de Francis Fukuyama, Equívocos, Enganos e Falsificações da História de Portugal (Planeta), de Sérgio Luís de Carvalho, e, lançados pela Temas e Debates, para os ensaios Armas, Germes e Aço, de Jared Diamond, Vaidade e Ganância no Século XXI, de Simon Blackburn, e A Lógica do Dinheiro, de Niall Ferguson. 
Dos autores nacionais, aguardam-se romances de João Ricardo Pedro, António Lobo Antunes e Inês Pedrosa, enquanto Teresa Veiga regressa com um livro de contos. O primeiro trimestre abre com a melhor ficção estrangeira actual. Já em Janeiro, o romance A Bastarda de Istambul, da turca Elif Shafak, e, em Março, a antologia de contos O Assassinato de Margaret Thatcher, de Hilary Mantel, saem pela Jacarandá. Purity, o novo romance do norte-americano Jonathan Franzen, chega pela Dom Quixote, bem como A Lição de Anatomia, de Philip Roth. Aguardem-se também Eu Confesso (Tinta da China), do catalão Jaume Cabré, e, pela Presença, O Bicho-da-Seda, de Robert Galbraith (pseudónimo de J.K. Rowling). 
 

Música

O ano do Panda 

2015 começa com regressos bastante aguardados. Em Janeiro, Noah Lennox apresenta o novo Panda Bear Meets the Grim Reaper, os britânicos Belle&Sebastian lançam Girls in Peacetime Want To Dance e Hanni El Khatib regressa com o seu garage rock em Moonlight. Em Fevereiro as atenções centram-se na sensualidade frágil e misteriosa dos Chromatics, que no dia 14, editam Dear Tommy. 
Em Março, Will Butler, dos Arcade Fire, aventura-se a solo com Policy, Twin Shadow regressa com Eclipse e a magistral Laura Marling apresenta Short Movie. Já confirmados para 2015, mas ainda sem data de lançamento, estão os trabalhos de três prodígios: Björk (a produção do álbum será da revelação Arca), Frank Ocean (que reúne altas expectativas) e Kendrick Lamar (o rapper que está a construir um mundo novo a partir do hip hop). Por cá, Márcia e Samuel Úria já prometeram novo registo. 
Alexandra Ho
 
Cinema

Mais do mesmo
Se há área do showbiz que estreita as margens é a da indústria cinematográfica anglófona. Em 2015 (ano em que se passava a acção de Regresso ao Futuro II) a tendência acentua-se: Star Wars VII, SPECTRE (novo filme de James Bond), Missão: Impossível V, Mundo Jurássico, Mad Max: Estrada da Fúria e, vindo do universo da BD, Vingadores: A Era de Ultron, Homem-Formiga e O Quarteto Fantástico. Aliás, no que respeita aos comics no grande ecrã aconselha-se a quem goste do género a elaborar um organograma: até 2020 estão garantidos mais de 30 filmes, entre sequelas, reboots, spinoffs e por aí fora. 
Voltando a 2015: por cá, o ano começa com a estreia de Pasolini, de Abel Ferrara. Outro filme sobre um cineasta italiano é Que Estranho Chamar-se Federico, um documentário do seu pupilo Ettore Scola. Em Março, outro mestre italiano – Roberto Rossellini – é homenageado, com a exibição de nove filmes em cópias restauradas. De produção nacional, há Capitão Falcão, estreia de João Leitão inspirada em BD que satiriza o Estado Novo. Dança

Gulbenkian in memoriam
O ano 'dançado' arranca em 15 e 16 de Janeiro, no CCB, com a peça Trovoada, de Luís Guerra, que apresenta duas composições originais, de Ulrich Estreich e de João Godinho (interpretada ao vivo pela pianista Joana Gama). Ainda em Janeiro, de 23 a 25, Alain Platel regressa ao Maria Matos com Tauberbach, um trabalho onde actores e bailarinos reflectem sobre como viver em circunstâncias impossíveis. 
A 5 de Fevereiro, a CNB apresenta, em estreia mundial, um dos trabalhos mais aguardados de 2015: A Perna Esquerda de Tchaikovski, uma obra encenada por Tiago Rodrigues, com música original de Mário Laginha, e que presta homenagem à bailarina Barbora Hruskova. De resto, a CNB será seguramente um das protagonistas de 2015, ao dedicar o mês de Março ao extinto Ballet Gulbenkian e aos 40 anos de actividade, que marcaram de forma indelével a dança em Portugal. BG inclui obras de Vasco Wellencamp, Olga Roriz, Hans van Manen e Ohad Naharin. Em Novembro, a Culturgest apresenta a nova criação de Paulo Ribeiro e, uma semana mais tarde, a companhia Trisha Brown, uma das mais influentes do pós-modernismo, traz as peças Son of Gone Fishin', Rogues, If You Couldn't See Me e Present Tense.

Teatro

O doce de Silva Melo 
Só depois de Pirandello, encenação de Jorge Andrade marcada para 12 de Março, a programação do D. Maria II vai expressar a entrada em funções de Tiago Rodrigues como director. Até lá haverá muito mais teatro. Ainda em Janeiro (15 a 24), Sara Carinhas leva As Ondas de Virginia Woolf ao São Luiz e a Culturgest vai ter a Pocilga encenada por John Romão (15 a 17). Fevereiro vai ser o mês de Pedro Penim (Teatro Praga), que entre os dias 13 e 15 vai estar na Culturgest com três peças – Tear Gas, Eurovision e Israel. Depois o Maria Matos vai unir-se à Culturgest e apresenta o trabalho do encenador Mariano Pensotti: El Passado Es Un Animal Grotesco (11 e 12 de Abril, Maria Matos) e Cineastas (15 e 16 de Abril, Culturgest). E a boa notícia, a que se deixa para o final, é a continuação da actividade dos Artistas Unidos apesar de as negociações sobre a permanência no Teatro da Politécnica ainda decorrerem: entre Fevereiro e Março há duas peças de David Greig e de 10 a 16 de Abril o São Luiz recebe-os com Doce Pássaro da Juventude, por Jorge Silva Melo. 

ATENÇÃO A…

Tiago Rodrigues

Todos os olhos estão postos no encenador e actor de 37 anos que sucede a João Mota como director artístico do Teatro D. Maria II.

Lewis Carroll

No dia 4 de Julho cumpre-se os 150 anos da publicação do clássico Alice no País das Maravilhas. A data vai ser celebrada com uma caterva de espectáculos, de exposições e conferências. Já o segundo filme de Tim Burton, adaptação do outro livro de Lewis Carroll sobre o mundo de Alice, Do Outro Lado do Espelho, chegará em 2016.

Benedict Cumberbatch

A interpretação do britânico como Alan Turing, em O Jogo da Imitação, é apontada pelos críticos como um forte candidato ao Óscar de Melhor Actor. Para já, está nomeado para o Globo de Ouro.

Jean Nouvel

Enquanto o Guggenheim Dubai está agendado para inaugurar em 2017, o Louvre Abu Dhabi, projecto com a assinatura de Jean Nouvel, deverá abrir portas neste ano.