“O PS no Parlamento tem dias. Há dias em que marca a agenda, coloca as questões com rapidez. Outros em que parece mais adormecido”, afirma ao SOL o ex-ministro de Sócrates, Augusto Santos Silva, apesar de ressalvar que o PS não pode ter uma “atitude demagógica”.
Na reunião da bancada socialista da semana passada, vários deputados criticaram o silêncio do PS nalguns temas políticos e pediram mais intervenção pública. O ex-ministro Correia de Campos escreveu mesmo, num artigo no Público, que “o PS tem de acordar”.
O discurso oficial é que o PS não pode fazer propostas que tenham impacto orçamental sem conhecer a situação macro-económica do país. Por isso, o PS tem preferido dar relevância a temas sociais, como a violência doméstica e a adopção por casais gay. Uma gestão cautelosa com os olhos postos nas legislativas. “Não é altura de ter uma linha muito diferente da que tem sido seguida. O PS tem de fazer uma gestão inteligente do tempo que o separa das eleições”, afirma o dirigente socialista Sérgio Sousa Pinto.
Confusão nas presidenciais
Mas, além da contestada estratégia de ‘fazer de morto’, também já há quem questione António Costa pela táctica ziguezagueante das presidenciais, ao dar ideia de que António Guterres não é uma aposta segura e avançar nomes como os de Sampaio da Nóvoa ou António Vitorino para o debate público.
O facto é que o PS não descola da direita nas últimas sondagens, mas o núcleo duro de Costa tenta não mostrar preocupação.
Entretanto, o que resta da oposição interna vai-se recompondo da derrota de António José Seguro, mas não se manifesta. Oficialmente, todos estão com o líder. A primeira prova de fogo da unidade interna está marcada para a próxima semana. É já no dia 31 que se reunirá a Comissão Nacional, e será a primeira vez que a oposição interna terá oportunidade de fazer ouvir a sua voz. Em discussão estará um tema que foi uma bandeira de Seguro: as eleições directas para aprovar as listas de deputados pelas estruturas distritais. Até agora podia haver eleições directas, quando não houvesse consenso nas escolhas. Com Costa, as directas recuam, e as distritais voltam a ganhar poder de escolha dos deputados.
Álvaro Beleza, herdeiro do segurismo, diz ao SOL que poderá haver alterações aos estatutos, mas é importante salvaguardar que o partido “não recue na democracia interna”.
Regionalização em causa
Dois dias antes da Comissão Nacional, reúne-se a Comissão Política. Aí poderá ser abordado outro tema com potencial para abrir a discussão sobre a estratégia de Costa. A sua opção por recolocar a regionalização na agenda política não foi recebida com entusiasmo por todo o partido, inclusive pelos seus apoiantes. “Colocar na agenda a regionalização, sem reinventar o municipalismo e sem reponderar a divisão administrativa, é um buraco do tamanho da dívida pública”, opinou o dirigente Ascenso Simões no Facebook.
Francisco Seixas da Costa também tem reticências. “Será minha impressão ou o PS mete-se numa imensa alhada ao seleccionar, em ano eleitoral, um tema ‘fracturante’ como a regionalização?”, escreve na mesma rede social.
Numa semana agitada no PS, António Costa terá sentido os primeiros sintomas de contestação à sua liderança e à estratégia para as legislativas. Das presidenciais à regionalização sobe o tom das críticas. E as sondagens estão longe de facilitar.