Mulheres ao poder

Foi na televisão que Paulo Portas a descobriu. Assunção Cristas fazia parte dos movimentos pró-vida, num Prós e Contras da RTP1. E a sua prestação foi suficiente para Portas a chamar para o CDS. Daí para cá, a ascenção foi meteórica. Portas nomeou-a vice-presidente do CDS, depois indicou-a para ministra – inicialmente de um super-ministério…

Mulheres ao poder

Ninguém arrisca assumir que Cristas é vista por Portas como sucessora, mas há sinais de que o líder aprecia o seu trabalho e não hesita em dar-lhe palco. E Assunção é conhecida por não virar as costas aos desafios. “Não é capaz de deixar coisas por resolver. Se é para fazer há que encarar de frente e não estar a adiar”, conta uma fonte do Governo, que vê na ministra da Agricultura qualidades de líder. “Tem capacidade de liderança e mobilização. Como se apaixona pelos assuntos que abraça, consegue provocar esse sentimento nos outros”.

Já uma fonte do CDS sublinha o protagonismo que Portas tem dado a Assunção e a que “ela tem correspondido”, acrescentando que “é uma mulher muito talentosa” e que poderá ser “a favorita do Paulo”. É que, apesar de no CDS se garantir que a sucessão não é tema, são dois os nomes apontados quando a questão se colocar: Cristas e Mota Soares.

A organização é outra das características que lhe é apontada e que – juntamente com o apoio do marido – lhe permite ser ministra e mãe de quatro filhos sem deixar nenhuma tarefa para trás. Foi, aliás, a primeira ministra portuguesa a estar grávida em funções e voltou ao trabalho após uma licença de parto de apenas 42 dias – sem perder a pasta que tutelava.

Assunção Cristas inicia, curiosamente, o seu currículo oficial com uma referência ao facto de ser mãe. Mas nem a maternidade a impediu de conseguir uma carreira académica sólida, que inclui um doutoramento em Direito Privado, e lhe valeu o lugar de professora auxiliar na Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa.

Para o conseguir, organiza a agenda ao minuto. “É sempre mil à hora”, confidencia uma fonte do gabinete, que revela que raras vezes a ministra participa em almoços ou jantares formais. A opção são refeições leves e, “em visitas, muitas vezes no carro ou, às vezes, numa área de serviço, onde chega a trocar de roupa, se estiver entre a visita a uma exploração agrícola e um encontro mais formal”.

Para a ministra que já trabalhou com três governos – os de Durão Barroso, Santana Lopes e José Sócrates -, os três anos mais produtivos da sua vida foram os que passou no gabinete de política legislativa e planeamento do Ministério da Justiça, tutelado então por Celeste Cardona: concluiu a tese de doutoramento, teve o segundo filho e ficou grávida do terceiro.

'Não tem aparelho, mas isso faz-se', diz-se no CDS

Cristas não gosta de estar parada e chega a ir a pé para casa, ao longo do rio, aproveitando para fazer exercício e alinhar ideias. Uma dor de cabeça para a segurança da ministra, que teve mesmo de lhe explicar que não seria boa ideia ir para o Terreiro do Paço de eléctrico como pretendia.

A informalidade nota-se também quando faz questão de cumprimentar com dois beijinhos os que se aproximam dela em visitas e cerimónias. 

É popular, mas não tem apoios dentro do partido, uma desvantagem que lhe é apontada no cenário da sucessão. Mas não falta no CDS quem ressalve que “já tem um percurso político mais longo do que tinham Manuel Monteiro ou Paulo Portas” quando chegaram à liderança.

“Não tem aparelho. Mas isso faz-se”, comenta um dirigente centrista, que vê em Cristas ambição suficiente para querer ser líder do partido. “Tem peso e tem pedigree”, reforça outro dirigente, que recorda ainda que, enquanto deputada, Cristas correu os distritos todos e “fez o trabalho de casa” e agora enquanto ministra “corre o país e faz questão de convidar sempre os membros do partido para estarem presentes nas suas deslocações”.

Falta saber quando poderá isso acontecer, já que não é líquido quando sairá Portas do partido. Se o resultado das próximas eleições legislativas levar o actual vice-primeiro-ministro a deixar a liderança do CDS, acredita-se que a sucessão se jogará muito provavelmente entre Mota Soares, João Almeida e… Assunção Cristas. Sendo que quer Mota Soares quer João Almeida têm um percurso mais longo e significativo no CDS. 

Caso a saída de Portas só ocorra em 2019, aí é quase certo que outro nome se sobreporá a estes, Nuno Melo. “É sem dúvida o dirigente partidário com maior popularidade dentro e fora do partido”, assegura uma fonte da direcção de Portas. 

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