«Saiu-se mal. Ninguém quer ficar no papel do bom aluno que é apresentado pelo professor como o exemplo para os maus alunos», reconhece um dirigente centrista, recuperando uma imagem usada por Marcelo Rebelo de Sousa, no espaço de comentário na TVI.
«Não correu bem», admite um deputado do PSD, que tem, contudo, a esperança de que os fracos ganhos dos gregos na negociação com o Eurogrupo ajudem a tornar claro que o caminho seguido pelo Governo português é o mais correcto. «À medida que as coisas vão correndo mal ao Syriza, as pessoas vão percebendo e isso é bom», diz a mesma fonte. A expectativa é partilhada no CDS, onde se espera que «o que acontece com a Grécia vai demonstrar que o caminho de Portugal está certo».
Apesar disso, Maria Luís, que no último ano tem somado pontos entre os sociais-democratas, que lhe admiram a capacidade de comunicação e o estilo terra-a-terra, defraudou na forma como geriu a semana em que o tema central era a negociação da Grécia com o Eurogrupo.
Luís Marques Mendes, que foi o primeiro a ver na ministra das Finanças qualidades suficientes para vir a ser líder do PSD, usou o comentário de sábado na SIC para dizer que Maria Luís «esteve mal» na forma como lidou com a situação grega.
O comentador e ex-líder do PSD considerou que a forma como a titular das Finanças apareceu ao lado do seu homólogo alemão deu a impressão de que Portugal foi «usado pela Alemanha contra a Grécia». E atacou a opção da ministra de «não ter falado logo, no final da reunião do Eurogrupo», acabando por falar apenas em entrevista ao Jornal Nacional da TVI no sábado.
O mesmo tom crítico foi usado por Marcelo Rebelo de Sousa, que não gostou da forma como o ministro das Finanças de Merkel usou Portugal como o exemplo do «bom aluno» numa conferência de imprensa na quarta-feira em Berlim, quando Tsipras e Varoufakis ainda tentavam ganhar margem de manobra negocial em Bruxelas.
Vigilância apertada para dar o exemplo na Europa
Apesar das críticas dos comentadores e dos desabafos de sociais-democratas e centristas, o eurodeputado Paulo Rangel garante que na Europa a imagem de Maria Luís Albuquerque não sofreu com estes episódios.
«A ministra tem uma imagem muito sólida e muito boa no Eurogrupo, onde é muito respeitada», assegura Rangel, explicando que Portugal está longe de ter ficado isolado contra os gregos em Bruxelas. «A Irlanda foi muito mais dura do que Portugal no que toca às pretensões gregas. E Espanha também. Aliás, o PPE, nesse ponto, tem mesmo o apoio do PSOE, porque em Espanha o Podemos é uma ameaça para os socialistas», aponta o eurodeputado social-democrata.
De resto, o facto de esta semana a Comissão Europeia ter anunciado que Portugal passa a estar sob vigilância apertada devido a «desequilíbrios macroeconómicos excessivos» é também desvalorizado por Paulo Rangel.
«A grande novidade é França e Itália estarem sob vigilância. Portugal, que saiu de um programa de ajustamento, teria sempre de ser vigiado para dar uma ideia de uniformidade de critérios», justifica.
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