Logo que foi aprovado o Programa de Estabilidade (PE), Passos Coelho e Paulo Portas começaram a fechar os termos do acordo entre os dois partidos. As conversas foram mantidas em sigilo e só Marco António Costa, no PSD, e Pedro Mota Soares, no CDS, acompanharam a definição do acordo de princípio.
Nos dois partidos, todos foram apanhados de surpresa com o anúncio da conferência de imprensa, que só seguiu para as redacções depois das 15h de sábado, para não perturbar as cerimónias da Revolução que decorriam no Parlamento.
A data não foi escolhida ao acaso. “O que ficou definido é que o acordo seria fechado logo a seguir ao Programa de Estabilidade. Se a negociação do PE se tivesse arrastado, em vez do anúncio ser no 25 de Abril, era no 1.º de Maio. Mas não se podia esperar muito mais”, diz um vice-presidente do PSD.
Portas celebra 1 de Maio
“Foi numa data simbólica para demonstrar que a liberdade não está sequestrada a uma certa esquerda que acha que é dona do 25 de Abril”, acrescenta outro membro da direcção de Passos, explicando que, “em política, os timings não são indiferentes”.
De resto, Portas parece apostado em não deixar à esquerda o monopólio das comemorações das conquistas de Abril. Neste 1.º de Maio, vai mesmo estar num almoço em Almada, para celebrar o dia do trabalhador e os 40 anos do CDS.
“Foi muito bem pensado fazer o anúncio no 25 de Abril”, concorda um membro da direcção de Portas, assegurando que, apesar do secretismo que envolveu o anúncio, a preparação “não foi uma coisa de última hora”.
Nos últimos meses, a direcção do PSD esteve a “analisar a evolução dos resultados económicos e o impacto disso na opinião pública”. Por outras palavras, no partido examinaram-se sondagens. E, como explica um vice-presidente social-democrata, chegou-se à conclusão de que “a descrença no PS era proporcional ao aumento de esperança no Governo”. Com números que mostram que ainda é possível sonhar com uma maioria absoluta à direita, “não havia razão para adiar mais tempo” o anúncio da renovação da coligação.
“É uma coligação que tem a ambição de lutar por uma maioria”, afirma ao SOL o centrista Nuno Melo.
O tom da campanha, esse ficou definido logo no anúncio do acordo, quando Portas sugeriu aos portugueses “prudência e caldos de galinha” na análise das propostas do PS para a economia. Responsabilidade e rigor continuarão a ser as palavras de ordem, com o PSD a quer um escrutínio apertado às medidas propostas pelos socialistas – e a submeter o documento à Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO), no Parlamento.
“É responsabilidade e não a facilidade ou a inconsciência que nos liberta”, disse Passos no anúncio do acordo, defendendo que será esse o caminho que fará Portugal “crescer ainda mais”.
Depois de o PE ter ajudado a fechar – pelo menos em traço grosso – algumas das principais questões de programa, a conversa segue para ‘questões de mercearia’ em torno das listas conjuntas. O acordo de princípio assinado por Passos e Portas define que os deputados de um e outro partido serão ordenados de acordo com os resultados obtidos nas eleições legislativas de 2011, por distrito.
“É um critério objectivo e verificável”, comenta ao SOL, Nuno Melo, lembrando que esse foi também o método seguido nas europeias, onde entrou em quarto lugar na lista.
Para já, ninguém se quer alongar em questões sobre lugares, apesar de ser óbvio o nervosismo que o tema causa nas distritais. “É um acordo de substância. A coligação é importante para enfrentar os tempos difíceis que Portugal ainda vive”, resume o dirigente centrista.
Para dar um sinal de abertura, a coligação já anunciou que irá integrar independentes nas suas listas, vindos sobretudo da academia e de áreas sociais. Passos e Portas já pediram aos dirigentes dos seus partidos para indicarem nomes, mas uma coisa é certa: só se avançará com nomes que o outro partido aprove.
“Estão muito articulados, muito certinhos”, comenta uma fonte do PSD, onde se quer evitar qualquer problema com o parceiro de coligação. “A articulação é total”, concorda uma fonte do CDS.