Opositores de Passos pressionam Rui Rio

São cada vez mais os sinais de que Rui Rio pode formalizar uma candidatura a Belém antes do Verão. O anúncio de que iria à SIC, ao programa Alta Definição, foi mesmo visto como uma prova de que o ex-presidente da Câmara do Porto está em campanha. Isto, apesar de alguns sectores do PSD preferirem…

Nas últimas semanas, Rio tem sido alvo de fortes pressões de alas sociais-democratas que não se revêem na liderança de Passos Coelho e que o têm tentado demover de uma candidatura presidencial para garantir que estará livre para assumir as rédeas do partido caso a coligação perca as legislativas.

Candidatura iminente?

Estas movimentações de alguns opositores de Passos intensificaram-se depois de no partido correr a informação de que o anúncio de uma candidatura poderia estar “por semanas”. Uma ideia que, apesar de contrariada por fontes próximas de Rio, parece sustentada pelas acções públicas do ex-presidente da Câmara do Porto.

A sua participação no Alta Definição, um programa ligeiro que fala da vida pessoal dos convidados, parece contrária à personalidade de Rui Rio e foi entendida como uma forma de mostrar o seu lado mais humano e ganhar uma notoriedade que lhe falta, sobretudo quando comparado com proto-candidatos presidenciais, como Marcelo Rebelo de Sousa ou Pedro Santana Lopes.

“Rio está em campanha. Resta saber para quê”, analisa um destacado social-democrata. “Está muito baralhado. Os apoios são poucos. E estas movimentações são acima de tudo tentativas de sobrevivência política”, acrescenta um vice-presidente do PSD. “Para quem está na vida política desde os 14 anos, é muito difícil ficar de fora”, assume um dos conselheiros do ex-autarca.

O próprio Rio tem mantido o tabu sobre as presidenciais. “Eu era hipócrita se dissesse que não penso [nas presidenciais]. Então, com notícias quase todos os dias… É tarde para quê? Para as presidenciais? De forma nenhuma, bem pelo contrário” – afirmou no início de um debate promovido pela Academia Sá Carneiro, do PSD/Porto.

Tudo parece em aberto, já que os mais próximos asseguram que Rui Rio não é “permeável a pressões” para não avançar e ainda não tomou uma decisão definitiva sobre o seu futuro. O ex-autarca estará ainda a analisar os vários cenários políticos, mas sobretudo a ponderar as consequências para a sua vida pessoal de uma candidatura a Belém, sendo que fontes próximas garantem que o facto de ter uma filha de apenas 14 anos pode “pesar bastante” na decisão.

Os três riscos

A candidatura de Rio terá de enfrentar, à partida, três riscos: ficar demasiado colada a um resultado da coligação nas legislativas, não ser suficiente para travar uma candidatura de Santana Lopes e, caso perca, acabar com uma carreira política aos 58 anos.

“Não é líquido que Santana não avance caso Rio seja candidato”, aponta um ex-líder do partido, sublinhando que “dois candidatos no centro-direita farão com que a vitória seja quase impossível, muito menos numa primeira volta”. 
Nesse cenário, Rui Rio – que nunca chegou a ter um cargo de destaque no partido ou no Governo -, correria o perigo de ver travadas outras ambições. “Depois de perder Belém, não poderia fazer mais nada”, comenta a mesma fonte.

Para já, os possíveis candidatos do centro-direita parecem apostados num jogo de empurra, a ver quem avança primeiro e de que forma condiciona os outros. Passos e Portas, que têm querido manter-se à margem do tema das presidenciais, incluíram no texto do acordo da coligação uma cláusula que deixa todas as hipóteses em aberto.

Ao introduzirem no texto do acordo a expressão “preferencialmente depois das legislativas”, os líderes do PSD e CDS continuam a preferir remeter qualquer decisão de apoio para Outubro, mas mantêm a possibilidade definir o candidato de centro-direita antes.

“A ideia é dar margem aos dois partidos para estarem mandatados para iniciarem conversações sobre o tema, caso algum candidato antecipe o calendário e avance antes das eleições”, assegura uma fonte que esteve envolvida na redacção do acordo de coligação entre PSD e CDS. 

“Em política, não se deve fazer afirmações demasiado peremptórias porque podemos sempre ser ultrapassados pela realidade”, justifica um vice-presidente de Paulo Portas.

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