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Ao terceiro disco, desvia-se do fado para explorar outras sonoridades. Porquê?
Penso que não há absolutamente nenhum desvio. Chamava-lhe antes um encontro de outras sonoridades que vêm até ao fado através dos compositores que participam no disco.
São eles João Gil, Jorge Palma, Pedro Jóia, Júlio Resende, Sara Tavares, Bryan Adams, Jorge Drexler e Djavan. Como foram escolhidos?
Procurei os compositores que marcaram a história da minha vida e fiz parcerias. Escrevi as minhas letras e eles emprestaram as suas sonoridades ao fado, dentro da ideia do disco que era ser de fado alegre. Existe um preconceito ligado ao fado, como se tivesse sempre que ser triste. Aqui não há tristeza nem queixume, mas isso não impede que seja intenso e apaixonante.
Escolheu para produtor o brasileiro Nelson Motta e as referências à Música Popular Brasileira (MPB) são evidentes. Partiu deliberadamente para o disco com a intenção de aprofundar essas influências?
Não parti com essa intenção, mas tendo o incrível Nelson Motta como produtor, era fácil ter influências de MPB no disco. Mas só em dois temas: ‘E La Chiamano Estate’ e ‘O Amor não é Somente o Amor’, a música inédita do Djavan. Os outros três temas aconselhados por Nelson Motta são sambas antigos, mas entre o samba e o fado existe uma melancolia muito similar. A palavra samba lembra-nos alegria e a palavra fado tristeza. Este disco vem mostrar que o samba também é triste e o fado também é alegre.
É fácil casar MPB com o fado?
O fado não pode ir a todos os estilos, mas os outros estilos podem vir a ser fados se declamados e sentidos como tal, e tocados pelo trio de guitarristas do fado. O fado é famoso no mundo inteiro, muitíssimo mais do que em Portugal, e ao contrário do que os portugueses pensam não é por causa das comunidades. O fado é famoso como o é o flamenco, o tango, a música clássica, o jazz ou qualquer world music. Este disco foi pensado como world fado, o encontro do fado com as suas raízes, África e Brasil, e com países como Itália, Canadá, Uruguai, Espanha, que o veneram.
Com esses cruzamentos todos, Riû continua a ser fado?
Riû é o meu fado, a abordagem ao fado alegre, leve, fresco, positivo. O António Zambujo também tem o seu fado muito único e também dizem que não é fado. O fado é a minha pele e nunca serei capaz de cantar outro género musical.
Como surgiu este título e a que se refere Riû?
Todos os meus discos têm um elemento da natureza. O primeiro tinha uma pena, o segundo chama-se Raiz, este tem a água. Todos os discos acabam também com um tema católico, mostrando como o agradecimento espiritual é essencial para que tudo se concretize. Porquê? Porque o fado é espiritual, é puro, não tem máscaras, assim como a natureza. É no fado e na natureza que encontro o meu equilíbrio e a minha paz interior.
Como e quando surgiu a ideia de chamar Nelson Motta para produzir o disco?
A ideia surgiu por ouvir o meu público dizer, vezes sem conta, que a minha música é leve, fresca, positiva e que saem dos concertos com lágrimas nos olhos, mas cheios de nostalgia positiva. Assim, surgiu a ideia de chamar alguém que conhecesse o sofrimento, mas o soubesse ver de forma positiva. Ninguém como os brasileiros para isso, um povo que sofre bem mais que nós, mas levanta-se e exterioriza as suas dores de uma forma positiva. Quem melhor do que Nelson Motta, o ‘papa da música’ como lhe chamam no Brasil, para trazer a inacreditável experiência de vida e sabedoria ao nosso fado? Trabalhar com o Nelson foi dos maiores presentes que a vida me deu.
Antes já tinha trabalhado com o argentino Gustavo Santaolalla, que produziu o seu disco de estreia. O que trazem esses olhares externos à sua música?
Gosto de ver o meu trabalho feito por alguém que não tem preconceitos, que fecha simplesmente os olhos e sente. O fado é isso, é a música da alma universal. Gustavo Santaolalla nasceu inserido no sentimento do tango, ele entende o fado como ninguém.
Tem um dueto com Djavan. Como aconteceu?
Djavan veio ao Cooljazz dar um concerto e fui convidada para fazer um dueto com ele. A partir daí ficámos em contacto e ele disse-me que quando gravasse o meu próximo disco o informasse pois gostava de participar de alguma forma. Assim fiz. Fui até ao Rio [de Janeiro], estivemos em casa dele um dia inteiro a criar o tema e foi uma das tardes mais incríveis da minha vida.
E como surgiu o tema que Bryan Adams compôs para si?
Conheci o Bryan Adams quando me fotografou para a Vogue e, como estava a fazer o disco, surgiu a ideia de a capa ser uma fotografia sua. Só depois surgiu a ideia do tema inédito. Além de ser um artista único, ele é uma pessoa fantástica, com valores que me impressionaram mais que tudo. Estamos habituados a admirar estes artistas desde pequenos e nunca imaginamos que nos possam surpreender como pessoas. Não consigo explicar o que senti quando recebi, no meu telemóvel, a música que fez. Devo ter dados uns 20 saltos em cima da cama e eu já tenho 33 anos. Para mim é das músicas mais bonitas do disco.
No último ano teve duas experiências marcantes em televisão: como júri de ‘Rising Star’ e concorrente em ‘Dança com as Estrelas’. O que retirou destas experiências?
Foram experiências fantásticas. Somos obrigados a lidar com a pressão, com toda uma panóplia de emoções, desde a responsabilidade do perfeccionismo à frustração que sentimos quando somos obrigados a mandar embora talentos pois só um pode ganhar. Fui muitas vezes para casa a perguntar-me se mexi com a auto-estima de alguém.