Ela estaria certa em 2013, ou mesmo nos princípios de 2014, quando o país estava na fossa e ainda não se via nenhuma luz ao fundo do túnel.
Mas essa época passou.
Vive-se um outro tempo.
As pessoas voltaram a consumir loucamente, o crédito às famílias disparou, as compras de carros idem, o Algarve está a rebentar pelas costuras, a confiança regressou.
Hoje, já não faz qualquer sentido passar a vida a falar da crise.
Na cabeça da maioria das pessoas, a crise já ficou para trás.
Até o desemprego voltou aos valores em que estava antes de este Governo tomar posse.
O PS planeou toda a sua campanha em função de uma realidade que já não existe.
O seu discurso já não se adequa a este novo tempo que estamos a viver.
O PS insiste em falar obsessivamente no desemprego – quando este já está a diminuir.
O PS diz que quer reanimar a economia – quando o PIB, como se sabe, já está a crescer mais do que a média europeia.
O PS ainda fala na renegociação da dívida – quando isso, como se viu na Grécia, é uma perigosa aventura.
O PS deveria ter baseado esta campanha numa ideia muito simples:
– Sim senhor, o Governo evitou um segundo resgate, e isso foi importante, mas vamos agora entrar num novo ciclo, que exige novas soluções e novas pessoas; a missão desta maioria acabou e é tempo de dar o lugar a outros.
Se dissesse isto, o PS credibilizava-se.
Mostrava-se capaz de reconhecer os méritos do adversário, não poderia ser acusado de dizer mal por dizer mal, mas remetia o PSD e o CDS para o passado – apresentando-se a si próprio como o partido do futuro.
Além disso, os números que vão sendo conhecidos não o atraiçoariam.
Não teria de estar sempre a justificar-se: “É verdade que o desemprego desceu, mas…”, “É verdade que o PIB está a subir, mas…”, “É verdade que as exportações estão a crescer, mas…”, “É verdade que os juros da dívida baixaram, mas…”.
O PS tornou-se o partido do ‘mas’.
Ora, quem sente necessidade de se justificar é porque está na posição fraca.
E é essa a ideia, de facto, que o PS agora transmite: apesar de ser oposição, apesar de enfrentar um Governo teoricamente enfraquecido pela austeridade, o PS parece estar na defensiva.
No fundo, o discurso que António Costa fez aos chineses é que seria adequado: “O país está melhor do que em 2011, é altura de agradecer a quem o conseguiu mas também de começar a escrever uma nova história”.
Insistindo em dizer que ‘está tudo mal’ e que é imperioso ‘mudar de vida’, o Partido Socialista acaba por fazer um discurso que já não tem aderência à realidade – e, pior do que isso, pode assustar muita gente.
As pessoas interrogam-se: se as coisas estão agora a correr melhor, será boa ideia mudar tudo?
Não corremos o risco de voltar para trás?
Já que aqui chegámos, não será preferível continuar no mesmo rumo para ver se nos safamos de vez?
Mesmo os que sofreram muito com a austeridade, pensarão duas vezes antes de apostarem numa mudança que comportará sempre um grau de incerteza.
Um cartaz recentemente colocado ilustra bem os erros que o PS tem cometido nesta pré-campanha.
Ao lado de uma fotografia de António Costa, lê-se a frase: “É tempo de confiança”.
Ora, isto dá ideia de que já estamos a viver um tempo novo, em que a confiança regressou.
E, se assim é, que necessidade há de mudar?
O que o PS queria dizer é que, com António Costa, podemos confiar no tempo que ‘aí vem’.
Mas, para isso, a frase associada à foto deveria ser: “Confiança no Futuro”.
Não será isto evidente?
P.S. – Ao dizer esta semana que se candidatará à Presidência da República, Maria de Belém – mais do que anunciar uma candidatura presidencial – deu um sinal de que o PS está irremediavelmente dividido. E, assim sendo, António Costa falhou o objectivo que se propôs ao candidatar-se à liderança: unir a família socialista.