Consolas, tablets e quejandos (em suma, tudo o que tenha um ecrã luminoso) estão fora de questão. Há dias, num restaurante, vi uma criança aproximadamente da idade do Mateus com um aparelho desse género e fiquei horrorizado. O miúdo não tirou os olhos dos desenhos animados e manteve os headphones nos ouvidos durante todo o almoço. Quando a comida chegou à mesa, o aparelho foi apenas desviado para caber o prato, mas manteve-se aceso. Como o filho nem sequer se dignava a pegar nos talheres, a mãe, de um lado, e a avó, do outro, iam-lhe dando a comida à boca, alternando as garfadas. O miúdo só tinha mesmo de mastigar, o que de resto fazia a contragosto.
Com as tecnologias riscadas, o leque de opções para o presente de aniversário do Mateus reduz-se drasticamente. Até porque, em termos de brinquedos, a nossa casa já faz lembrar um avião: ou seja, tem quase tudo a dobrar ou até mesmo em triplicado.
Bolas há-as literalmente aos pontapés, de todos os tamanhos e feitos. Carrinhos convencionais ou telecomandados, embora os nossos filhos sejam demasiado pequenos para os controlar, também não faltam. Skate, patins, trotinete, bicicleta – tudo o que tenha rodas marca presença. Raquetes de praia, de pingue-pongue e de ténis. De peluches e bonecada nem se fala…
E os Legos? Isso é como uma daquelas pragas difíceis de controlar. Estão espalhados um pouco por toda a casa: debaixo das camas, do sofá e da mesa de jantar, junto aos rodapés da sala, na bancada da cozinha, nos corredores. Até já encontrei alguns dentro dos sapatos.
Chegados a este ponto, devo dizer que os nossos filhos são loucos por armas – e nós achamos que é preferível terem agora armas de brincar do que quererem mais tarde umas a sério. No quarto deles há espadas (de esponja, plástico e madeira), punhais, floretes, Nerfs, pistolas de água, um arco e flecha e até uma espécie de kalashnikov. Ainda sonham com as matracas das tartarugas ninja e um martelo do Thor – um martelo colossal, feio e tão bárbaro que nos recusamos terminantemente a oferecer.
É em alturas como esta que nos apercebemos até que ponto as nossas crianças são privilegiadas – ou mimadas, se preferirem. A sociedade de consumo entra em força nas nossas casas e transforma uma tarefa agradável como comprar um presente num quebra-cabeças dos mais complexos. Por isso compreendo tão bem aqueles que, em desespero de causa, oferecem aos pequenos tablets e outros aparelhos alienantes. Mas, se me permitem um pequeno conselho, não os deixem usá-los à mesa. Eles até podem não achar graça, mas um dia ainda hão-de vos agradecer.