Festa do Avante! só tem um alvo à esquerda

Muito à frente da concorrência nas sondagens (tem o dobro do resultado do BE), o PCP aproveita a 39.ª Festa do Avante!, que começa hoje, para vincar a diferença de estatuto na esquerda portuguesa.

“Não é o grande comício da CDU, mas é um momento privilegiado de afirmação no arranque da campanha”, diz ao SOL Paulo Raimundo, dirigente do PCP. Numas legislativas com dois novos partidos de esquerda no boletim de voto, os comunistas estão confiantes. “Haver vários partidos é um aspeto positivo, estamos muito à-vontade. Não precisamos de disputar a diferença”, explica o dirigente da Comissão Política.

A estratégia do primeiro debate televisivo, mostrou um Jerónimo de Sousa sem vontade de atacar o principal rival da extrema-esquerda parlamentar e uma Catarina Martins que sublinhou os pergaminhos históricos do PCP. Uma espécie de pacto de não agressão. Agora, na Festa do Avante!, o discurso comunista terá como alvo principal o Governo, mas não se desviará da linha escolhida para os ataques à esquerda: o PS de António Costa.

“Alguns autointitulam-se de esquerda e depois o conteúdo não se adequa. O PS tem particulares responsabilidades porque tem seguido uma prática diferente”, argumenta Paulo Raimundo.

A ‘não questão’ de Belém

A Festa do Avante! tem vários momentos políticos, começando com o discurso de Jerónimo de Sousa, hoje ao final da tarde. No sábado, alguns dos principais dirigentes e personalidades do PCP – incluindo históricos do partido – têm púlpito montado na festa, para discutir com os militantes e simpatizante os temas da atualidade política.

O encerramento da festa, no domingo, dá palco a Jerónimo de Sousa para o aguardado discurso da rentrée, em tempo de arranque das legislativas. “O secretário-geral do PCP fará a caracterização da situação política e terá uma oportunidade para uma grande afirmação de confiança na batalha eleitoral”, antecipa o dirigente do PCP, Paulo Raimundo.

As eleições presidenciais não são tema prioritário, até porque “este é o tempo das legislativas”. Declarações recentes de Jerónimo de Sousa, porém, foram lidas como uma promessa subliminar de que o PCP poderá apoiar Sampaio da Nóvoa à primeira volta, criando assim expectativa para o discurso de domingo. As palavras de Jerónimo, em entrevista à TVI, nem foram além do habitual: “O PCP nunca regateou um apoio, uma solução, para bem da democracia, da Constituição, colocando na Presidência da República quem pudesse dar essa contribuição positiva”. Mas o contexto da pergunta – o apoio do PCP a Nóvoa – proporcionou uma leitura diferente.

 “Não há nada de novo. Só pode olhar com novidade quem esquece a prática do PCP. Já tivemos candidatos que foram às urnas na primeira volta e outros que não foram até ao fim”, diz Paulo Raimundo, não abrindo o jogo.

Contra a maioria absoluta

Na estratégia comunista para as próximas quatro semanas, avulta o combate à pressão socialista para o voto útil. A fórmula da mensagem foi afinada pelo secretário-geral do PCP na Quinta da Atalaia, há oito dias. Sempre que houve maioria absoluta, salientou, “nunca houve estabilidade na vida das pessoas”. Mais uma razão para eleger o PS como alvo dos ataques.

A campanha comunista vai percorrer duas vezes o país, mas com incidência nos distritos em que a votação possa pender para conquistar mais deputados ou segurar a atual representação. Braga e Setúbal são dois pontos-chave, Santarém, Faro e Coimbra também têm peso. “Não vamos eleger só mais um deputado”, prometeu Jerónimo, ontem, numa entrevista ao CM. Segundo as contas do SOL, com base nas sondagens, o partido pode chegar aos 20, conseguindo o maior grupo parlamentar comunista das últimas décadas.

manuel.a.magalhaes@sol.pt