Depois de chutar para canto a polémica do défice, fez uma arruada curta e fora da agenda em Bragança e seguiu para Macedo de Cavaleiros, onde devia visitar a Santa Casa da Misericórdia. O povo esperava-o à porta, o provedor também e até a gaita de foles soava na manhã soalheira de Trás-os-Montes, mas Passos pediu muitas desculpas e não entrou.
“Era uma falta de respeito entrar e não ter tempo para cumprimentar e falar com as pessoas”, justificava-se à porta perante um provedor desconsolado. O líder da coligação ia explicando que o facto de ter regressado ainda durante a madrugada de Bruxelas tinha feito atrasar a agenda prevista e dizia que tinha de sair apressado para o almoço em Mirandela.
“Assim não poderemos fazer uma visita tão demorada como era merecido. Voltaremos cá numa outra oportunidade”, dizia Passos Coelho que, mesmo sem entrar, não quis deixar de dar uma palavra aos que o esperavam.
Enquanto os repórteres de imagem e fotógrafos a registavam as desculpas do primeiro-ministro, Paulo Portas ia entrando, discreto nas instalações da Misericórdia.
Passos não entrou na Santa Casa e talvez assim tenha evitado repetir a cena do Barreiro, quando uma conversa com um idoso que se queixava dos valores da pensão fez tremer a comitiva.
A sombra do empate técnico que as sondagens ameaçam faz com que toda a cautela seja pouca.
Com Passos e Portas a querer mostrar apoio nas ruas, as estruturas locais esforçam-se por conseguir cenários compostos nas arruadas e visitas. E há até despiques entre PSD e CDS para ver quem melhor consegue compor a moldura que aparecerá nas imagens.
“Aquilo em Bragança foi uma vergonha. Estava um terço das pessoas que estão aqui em Macedo”, atirava um membro da distrital de Bragança do CDS a uma militante social-democrata da estrutura daquele distrito. “Quero ver quantos bilhetes para o almoço vendeu o CDS”, respondia ela. O tom era de brincadeira, mas a preocupação com a demonstração de força era evidente.
“A sala está completamente esgotada”, anunciava-se já no almoço em Mirandela.
As pessoas estão a perder o medo de apoiar, acha Passos
Passos Coelho, esse, fez mesmo questão ainda antes de seguir para Mirandela, de falar no apoio que garante sentir cada vez mais nas ruas. “É verdade que à medida que o tempo passa, as pessoas se desinibem mais”, comentava em Macedo de Cavaleiros, dizendo que acha que agora as pessoas já se aproximam dele e de Portas “sem temer serem criticadas” por isso.
Para Passos, os sinais que vê é o de que as pessoas começam a perceber que o melhor caminho é do de “apostar no que já deu certo”.
As mudanças na agenda que fizeram Passos fazer uma pequena arruada em Bragança e não entrar na Santa Casa de Macedo de Cavaleiros não foram, porém, as únicas alterações deste quinto dia de campanha.
Ao contrário do que estava definido, Paulo Portas não irá hoje a Braga, a cidade onde Passos acabou por ter um encontro imediato com um lesado do BES e propôs a já muito criticada “subscrição pública” para levar o caso do papel comercial do BES para os tribunais.
Ontem, com Passos Coelho na cimeira europeia sobre refugiados, coube a Paulo Portas o segundo turno do dia de campanha, numa visita aos Estaleiros de Viana do Castelo.
Desta vez, Passos e Portas vão passar o dia juntos. Vila Pouca de Aguiar, Chaves e Valpaços fazem parte do roteiro transmontano, que acaba num comício no Largo da Capela Nova em Vila Real.