Depois de mais de quatro horas de reunião de uma Comissão Política animada onde se discutiu a vida interna do partido, os acordos à esquerda ou direita e também presidenciais, Costa irá agora dialogar com os partidos da coligação e também com as forças políticas à sua esquerda.
Após o repto de PCP e BE, que desafiaram o PS a formar um governo à esquerda, os socialistas devolvem a pressão: “O PS considera indispensável a clarificação das posições publicamente assumidas pelo PCP e pelo BE sobre a existência de condições para a formação de um novo governo com suporte parlamentar maioritário”, pode ler-se no documento que foi aprovado com 63 votos a favor, 4 contra e três abstenções. Contudo, à saída da reunião, Costa recusou “maiorias negativas” – repetindo a ideia do discurso de derrota – apesar de dizer que não ficou “indiferente” às declarações de Jerónimo de Sousa” nem pode “ignorar” o BE.
Tal como já tinha dito numa entrevista ao SOL, o líder do PS recusou o Bloco Central, “salvo uma invasão de marcianos”, referindo que há uma “muito clara diferenciação” entre as propostas do PS e dos partidos da coligação. E colocou mais uma vez o ónus da formação do Governo do lado do PSD e CDS, com uma nuance: “Teremos naturalmente de ouvir o que o PSD tem a dizer sobre a solução de governabilidade, mas devemos falar com todas as forças políticas”.
Apesar da recusa de uma coligação para o Governo, Costa deixou a porta aberta para entendimentos com a coligação, frisando o “sentido de responsabilidade” e o “espírito de diálogo e compromisso”. Mas com condições. Desde logo frisou que “não faz sentido para quem vota, que o PS apoiasse agora a continuação das mesmas políticas”. “Seria um contrassenso”, declarou. De resto, o documento aprovado em Comissão Política traz já um caderno de encargos, que Costa ensaiou na noite eleitoral, nomeadamente a “defesa do Estado Social e serviços públicos” e o “virar da página da austeridade”.
Para o PS, a bola está agora do lado da direita que “tem de perceber que não pode governar como se nada tivesse acontecido e deve explicar como pretende assegurar a governabilidade”, lê-se no documento aprovado pela direcção alargada do PS.
Costa atira-se a Cavaco
António Costa não gostou da forma como Cavaco Silva conduziu o processo após as eleições e deixou-o claro. “Se o Presidente da República quer ser o promotor de um diálogo, não deve achar suficiente que basta falar com o líder do seu partido”, disse.
Para o líder do PS, Cavaco teve uma intervenção “bastante atípica” ao convidar Pedro Passos Coelho para tentar um acordo de Governo. Numa intervenção ao país, o Presidente da República pediu um governo “estável e duradouro”.
PS não apoia nenhum candidato presidencial
O PS decidiu dar liberdade de voto aos militantes nas eleições presidenciais. Assim, o partido não apoiará nenhuma das candidaturas que emergiram na sua área política, nem o ex-reitor da Universidade de Lisboa Sampaio da Nóvoa, nem a socialista Maria de Belém.
“A mim dificulta-me. Sou o único que fico numa posição difícil porque não terei liberdade de me expressar”, afirmou Costa.
PS assume “com humildade” derrota
Foram várias as críticas à derrota eleitoral do PS com alguns seguristas a pedirem a cabeça de António Costa. Mas o líder do PS mantém-se no cargo e garante que não havia nada para “reforçar”. “A situação mantém-se, não havia nada para reforçar”, respondeu aos jornalistas, quando questionado sobre se a Comissão Política, que acabou já de madrugada, legitimou os seus poderes enquanto secretário-geral. “Tenho um mandato muito claro para a negociação que temos pela frente”, rematou.
A derrota nas legislativas foi assumida “com humildade democrática” pelo PS.