Quem é que devia ter feito propostas? Passos e Costa em jogo do empurra

Se António Costa saiu com as expectativas frustradas da reunião com a coligação, por não lhe ter sido apresentada qualquer medida concreta, Passos Coelho não saiu menos desiludido. O líder do PSD esperava que fosse o PS a avançar com ideias para cima da mesa. Como isso não aconteceu, Passos admite que fará “um exercício…

Passos até pode ter acabado a reunião a dizer que espera que o país não fique num impasse, mas a verdade é que depois de três horas Portugal continua exatamente na mesma indefinição política que estava quando Costa entrou na sede do PSD às nove horas e um minuto desta sexta-feira.

Segundo Costa, a culpa é de Passos e Portas. Segundo Passos, a culpa é de Costa.

“Estávamos inteiramente recetivos”, sublinhou o líder do PSD, reforçando o que Maria Luís Albuquerque já tinha avançado ao SOL sobre a negociação com os socialistas. “Não partimos com linhas vermelhas”, garantiu Passos Coelho que achava que, sendo o PS o partido que não ganhou as eleições, caberia a Costa apresentar ideias e propostas para chegar a um compromisso e não o contrário.

“Julgávamos que era assim que deve ser”, disse, sublinhando que “não compete à coligação” fazer uma escolha de quais, de entre as medidas do programa socialista, serão para tentar levar a avante para chegar a um entendimento.

“O PS não apresentou nenhuma proposta em concreto”, afirmou, para explicar que se vê agora obrigado a fazer um certo exercício de advinhação para saber quais são as propostas que permitirão aproximar os programas da coligação e do PS.

“É um exercício um bocadinho mais atrevido”, admite Passos, que tem apenas uma baliza para a negociação: as regras europeias definidas no Tratado Orçamental. E uma base de trabalho: o programa da PàF que, recordou, ganhou as eleições.

Passos avisa que remover a austeridade mais depressa só com novas medidas

“Também nos pareceria bizarro que no fim destas interações chegássemos ao final com o programa do PS ou de qualquer outro partido”, ironizou, usando o passado para sustentar que essa tem sido a tradição da democracia em Portugal.

Olhando para os programas da PàF e do PS, Passos vê que ambos querem “remover as políticas de maior austeridade” e diz até que na coligação estão “totalmente disponíveis para poder reanalisar” os diferentes ritmos de reposição de cortes em salários e devolução da sobretaxa que são defendidos num e noutro programa.

Mas a disponibilidade para acelerar a reposição dos rendimentos dos portugueses acaba no limite dos 3% do défice. Ou seja, isso só acontecerá se o efeito na receita for compensado “com outro tipo de medidas que nos mantenham num défice abaixo dos 3%”. E, “sobre isto o PS não apresentou qualquer proposta”.

De resto, Passos mostra-se cético. “Se achássemo que era possível remover a sobretaxa e repor já os salários já em 2016 teriamos dito isso na campanha eleitoral”, avisa.

Passos não se cansa de afirmar que espera ver respeitado “o princípio de que quem ganhou as eleições possa constituir governo”, lembrando que para isso é importante “que o programa de governo não seja chumbado no Parlamento apenas por o governo não ter maioria absoluta”.

Isso, considera, “seria uma subversão”.

margarida.davim@sol.pt