São do tempo em que todos eram coreanos, um tempo que as novas gerações só conhecem dos livros – em versões diferentes, nortenha ou sulista – ou de relatos de familiares. Esta semana, a partir de terça-feira, terão oportunidade de um breve reencontro no Monte Kumgang, na Coreia do Norte. Um momento que não se repetirá e que esperam há décadas.
Fora dos tópicos de conversa, delineados pelas autoridades de Seul e de Pyongyang, estarão os benefícios/malefícios de capitalismo e comunismo, expressões como ‘Coreia do Norte’ e ‘Coreia do Sul’, as condições em que vivem. Restará muito que falar à família Lee.
Lee Pil-soon, 69 anos, sente-se “dormente”. Ainda lhe custa a crer que vai rever o irmão mais velho, Lee Byong Yong, de 86 anos, que ficou retido do lado norte, no final da guerra. Os outros irmãos ficaram a sul do paralelo 38.
“Vou reconhecê-lo quando o vir. Vou abraçá-lo e chamá-lo ‘mano mais velho’”, partilhou com o Washington Post a sexagenária que viaja para norte com quatro irmãos, todos mais velhos que ela.
'Ele adorava-me quando eu era bebé'
A separação que o conflito trouxe afastou irmãos, pais e filhos, maridos e mulheres, amigos. Desde 1988, quando começaram a acontecer estes encontros – findos os quais os familiares voltam a separar-se, agora definitivamente – organizados pela Cruz Vermelha, inscreveram-se cerca de 130 mil sul-coreanos. Metade já morreu.
Os Lee do lado sul pensavam que o irmão do norte já estava morto. Ele pediu para vê-los e os contactos foram estabelecidos com sucesso. “A nossa mãe era muito rígida, mas o meu irmão mais velho foi sempre carinhoso connosco”, recorda Lee Song-yong, de 74 anos. O septuagenário lembra: “Ele adorava-me quando eu era bebé”.
Cobertores, dinheiro, suplementos vitamínicos, bens essenciais fazem parte da bagagem que ruma ao norte na comitiva de 400 sul-coreanos. Embora saibam que nem tudo chegará às mãos dos familiares, porque parte ficará nos bolsos das autoridades norte-coreanas – para ajudar a custear as despesas dos reencontros -, fazem o que podem para ajudar. Os Lee levam 1.500 dólares – a divisa que Pyongyang mais aprecia -, um casaco de inverno, meias, pasta de dentes. E 60 anos de saudades para matar.