César: ‘O PS não procurou nem deseja ser governo a qualquer custo’

Coube a Carlos César fazer a defesa do PS depois das duras críticas à direita ao longo de todo o debate sobre o programa do Governo, que decorreu esta tarde, no Parlamento. “O PS não procurou nem deseja ser governo a qualquer custo”, sublinhou o líder parlamentar socialista, depois de PSD e CDS terem colocado…

“Só a direita que se dá mal com a democracia se dá mal com a maioria. Só a direita que se dá mal com a democracia não aceita as opiniões contrárias. Há melhor política e melhor governo que o que PSD e PP propõem”, defendeu César, palavras que foram recebidas com uma pateada por parte das bancadas da direita e aplausos dos socialistas.

César admitiu que se o PS tivesse ganho as eleições com maioria absoluta talvez não houvesse uma aproximação à extrema-esquerda. “Se tivesse ganho as eleições com maioria absoluta, [o PS] poderia não estar a celebrar com a mesma formalidade ou a discutir com a mesma profundidade com o BE ou com o PCP um acordo de políticas, mas estaria, certamente, a procurar governar com um programa e conteúdos muito semelhantes aos que se proporá fazer em consequência dos acordos que acabou por concretizar com esses partidos”, referiu.

Tal como Pedro Nuno Santos já havia feito no início do debate, César voltou a destacar as diferenças entre PS e a direita. “Se houve uma marca no relacionamento interpartidário nestes últimos quatro anos, porém, que dividiu profundamente a opinião dos portugueses, foi a incompatibilidade persistente entre o PS e a coligação de direita”, notou.  

Outro dos argumentos que os socialistas têm utilizado na frente do combate político é a radicalização da direita. “Na verdade, e nos últimos anos, a direita portuguesa reconfigurou-se e radicalizou-se, incluindo nesse movimento o afastamento do PSD das suas raízes e emanações históricas e essenciais. A prova é que procurou o CDS, e não o PS, antes e logo após estas eleições”, apontou César.

A perda da maioria por parte da direita também fez parte da defesa do PS: “Essa direita, tornada minoritária em 4 de Outubro, pretendia agora, à falta da confiança que lhe foi retirada pelos portugueses, rebocar os socialistas, como se de um andarilho se tratasse, para os terrenos da indiferença à pobreza, às desigualdades e às ameaças de insustentabilidade do Estado Social que criou”.

No contra-ataque, o vice-presidente da bancada do PSD Hugo Soares acusou o PS de “aventureirismo”. “Se correu tudo tão mal como foi possível a coligação ter ganho eleições?”, questionou Hugo Soares, referindo que na bancada da oposição quem está sentado é António Costa. Já o deputado do CDS Telmo Correia garantiu que a direita não aceita “lições de democracia”. “Nem de si, nem dos seus novos amigos”, disse, apontando para as bancadas de BE e PCP. E deixou a ironia, depois de o PS destacar a perda de maioria da direita: “E o vosso resultado foi bom? Não foi muito poucochinho?”.

Costa resguarda-se no primeiro dia de debate

Os partidos da direita passaram o debate a criticar o facto de António Costa não fazer hoje qualquer intervenção. Começou com Hugo Soares a interpelar a mesa da Assembleia questionando quem estava inscrito para falar, notando que Costa não estaria. Prosseguiu com o líder parlamentar do CDS, Nuno Magalhães, que acusou o líder do PS de se “furtar” ao debate e com o social-democrata Carlos Abreu Amorim, o mais duro nas críticas. “Venha ao jogo democrático”, desafiou.

Costa está inscrito apenas para falar amanhã, durante o encerramento do debate. Uma estratégia para se resguardar e não travar nesta fase um debate corpo a corpo com Passos Coelho e restantes deputados da direita, preferindo colocar outros deputados do PS a fazer esse papel de combate.

Aos jornalistas, o líder do PS respondeu com ironia: “Verifico que as bancadas do PSD e CDS dão razão aos que dizem que o debate com o primeiro-ministro é uma perda de tempo porque o que querem é debater comigo”. ​

sonia.cerdeira@sol.pt