Embora se reconheça que muito dificilmente o Presidente da República poderá ter margem de manobra para ‘fugir’ à indigitação de António Costa como primeiro-ministro e dar posse ao seu governo, a verdade é que na coligação ainda persiste a ideia de que Cavaco Silva poderá vir a exigir mais condições ao secretário-geral do PS na primeira conversa que venha a acontecer entre ambos após o derrube do Governo de Passos Coelho e Paulo Portas.
Para já, nem PSD nem CDS estipulam um prazo de validade para a oposição que juntos prometem fazer a Costa. “A coligação nestes termos, com as atuais lideranças e a estabilidade de que já deu provas, não tem quaisquer limitações”, afirma sem hesitações um membro do Governo.
O resto poderá depender apenas dos “timings internos de cada partido”, acrescenta a mesma fonte. Ou seja, da realização dos respetivos congressos do PSD e do CDS e de eventuais mudanças nas lideranças de sociais-democratas e centristas.
À partida ambos os congressos irão realizar-se já depois das eleições presidenciais. O conclave dos centristas deverá ser no final de fevereiro ou em março e o do PSD pela mesma altura.
Com a queda do XX Governo, caiu também o acordo de governação que sociais-democratas e centristas assinaram após as eleições de 4 de outubro. Mas os dois partidos estão apostados em manter-se articulados e firmes na oposição a Costa assumindo posições convergentes.
Os avisos na AR e explicações pelo país
“Sempre disse que não abandonava o meu país, e não o abandono. Se não me deixam lutar por ele à frente do Governo, como quiseram os eleitores, lutarei no Parlamento, por que me orgulho de ter muito respeito”, foi a declaração de guerra de Passos no encerramento do debate do programa do Governo. Sem deixar de sublinhar que “não é todos os dias que se sai do Governo com o voto do eleitorado”.
Para o futuro e a deixar adivinhar o que António Costa pode esperar do PSD e do CDS, ficou o aviso: “Quem hoje votar pelo derrube do Governo legítimo não tem legitimidade para mais tarde vir reclamar sentido de responsabilidade, patriotismo ou europeísmo”.
Para capitalizar a onda de indignação dos dirigentes locais e dos militantes, 74 dirigentes partidários do PSD e do CDS, incluindo membros do Governo e os próprios Passos e Portas, estiveram na estrada nos dois dias posteriores à queda do Executivo no Parlamento. A iniciativa abrangeu os 18 distritos, com o objetivo de animar as hostes. O guião de explicação do processo de formação do Executivo, do programa do Governo e da queda do mesmo no Parlamento foi o mote para mobilizar as tropas para os tempos de oposição que aí vêm.