Até Paris serve para pôr os deputados aos gritos

Ferro Rodrigues tinha conseguido dar a volta a eventuais considerações políticas no voto de pesar sobre as vítimas dos atentados de Paris, apresentando um texto que todas as bancadas aprovaram. Parecia esvaziado o potencial de polémica que existia à esquerda caso houvesse alusões à resposta política ou militar a dar ao terrorismo.

Mas a intervenção do Presidente da Assembleia da República não foi suficiente para evitar que a discussão, que tinha começado com uma ovação de pé ao embaixador de França em Lisboa, acabasse em gritos e pateadas.

Não foi, porém, a NATO ou a resposta armada de França na Síria que fizeram aquecer os ânimos.

O deputado do PSD Carlos Gonçalves não resistiu a, a meio de uma intervenção sobre os atentados de sexta-feira 13 de novembro, falar sobre a crise política portuguesa.

"As comunidades portuguesas olham com perplexidade para a situação que o país vive atualmente ", disse o social-democrata, afirmando que estes portugueses que vivem em França "não compreendem que no seu país quem ganha eleições não governa".

Foi o suficiente para incendiar o plenário. O socialista Paulo Pisco reagiu com indignação. "É de muito mau gosto misturar estes dois planos", lançou o deputado do PS, iniciando uma troca de argumentos entre sociais-democratas e socialistas, que cresceu para pateadas e berros e fez com as declarações políticas acabassem por ficar dominadas pela crise política que se vive no país.

É mais um sinal de uma crispação crescente na Assembleia da República, onde as relações entre esquerda e direita estão cada vez mais difíceis e as posições cada vez mais extremadas.

margarida.davim@sol.pt