“Depois de tudo quanto disseram, uma moção de rejeição será, além de simbólico, um ato de coerência. Não apresentar, é um recuo e sinal de fraqueza”, justificou. “Caso contrário, António Costa dirá sempre: ‘vocês até deixaram passar este Governo’”.
Além disso, “depois do stresse pôs-traumático que sofreram”, os dois partidos da direita “têm de encontrar o cunho adequado para fazer oposição: nem bota abaixo, por uma questão de credibilidade, nem muleta do governo”.
‘Globalmente, é um bom Governo’
Quanto ao elenco de ministros e secretários de Estado escolhido por Costa, Mendes considera que é “globalmente um bom Governo”, tendo em conta as figuras e os currículos, mas nota que não tem ninguém “de peso e de referência da sociedade (Elisa Ferreira, por exemplo, ou um António Vitorino, um Luís Amado ou Jorge Coelho)”. Além disso, o novo Executivo tem o problema de na prática estar dependente de dois conselhos de ministros: o Conselho propriamente dito, à quinta-feira, e um outro à terça-feira, no Parlamento, conduzido pelo líder parlamentar do PS, Carlos César, com as respetivas lideranças do BE e da CDU. Além da “parlamentarizacão do sistema, isto em termos práticos não é bom, só por sorte é que vai correr sempre bem”, salienta Marques Mendes.
Concessões dos transportes anuladas nos próximos dias
Para Mendes, “acima de tudo este é um Governo de combate, o que é natural nos governos minoritários, que estão sempre a preparar-se para eleições. O risco é de estarmos em campanha eleitoral permanente, do PS ao PSD, e o país não aguenta uma campanha eleitoral permanente”.
Quanto a Costa, vaticina que o primeiro-ministro vai governar umas vezes mais ao centro, outras à esquerda, “consoante o auditório”, sendo que nas Finanças vai governar sempre ao centro “por causa dos mercados e de Bruxelas”.
“É preciso perceber-se que António Costa é acima de tudo pragmático, mais do que um político ideológico. É flexível na gestão das suas convicções, digamos assim. Portanto, nos próximos seis meses, vai cumprir o acordo à esquerda e distribuir as benesses que aí estão previstas”, salientou Marques Mendes. E a primeira deverá ser, “já nos próximos dias, a reversão das concessões a privados das empresas de transportes de Lisboa e Porto”, bastando para isso que o novo ministro da tutela “dê uma ordem às administrações para retirarem do Tribunal de Contas o pedido de visto dos contratos”, pois estes ainda não foram visados.
Depois, “Costa vai querer aumentar a popularidade e subir nas sondagens, para desencadear uma crise assim que puder”. E para isso “vai responsabilizar o governo anterior pelos dossiês mais difíceis”. “Cinco personalidades que se cuidem, pois são uma espécie de ódios de estimação ou alvos a abater de António Costa: Passos Coelho, Paulo Portas, Maria Luís Albuquerque, Sérgio Monteiro e Carlos Costa, o governador do Banco de Portugal”.