Prova disso, salientou, é o facto de o Governo ainda só ter anunciado a suspensão da concessão das empresas de transportes de Lisboa e Porto, mas ainda não ter retirado do Tribunal de Contas os contratos com os privados que este tem de visar se se quiser prosseguir com o negócio.
"A prova provada de que desconfiam um do outro é que o Governo está a fazer isto em duas fases: primeiro disse 'suspenda-se', mas ainda não disse 'retirem os contratos'. Diz que 'primeiro vamos ver e analisar e daqui a uns tempos toma-se a decisão final'. Ou seja: não vá o PCP levantar problemas no Orçamento do Estado…", salientou Marques Mendes.
Na sua opinião, o que se está a passar é que o PS está refém do PCP e este está a cobrar "juros altíssimos logo à cabeça". Isso mesmo foi reconhecido por António Costa numa frase do debate do programa do Goverbo no Parlamento: "Aquilo que o PCP não está disponível para apoiar também é aquilo que não estamos disponíveis para propor", disse o líder do PS.
"O PCP entrou neste acordo, mas com juros à cabeça, como se fazia nos anos 80. Por exemplo, a reversão das concessões dos transportes, o fim dos exames no 4.º ano e da prova dos professores, a lei dos baldios… O PCP não brinca em serviço: vai cumprir aquilo a que se comprometeu, mas à cautela cobra já aqui uma data de juros à cabeça", salientou Mendes.
Neste sentido, a vaga de greves desta semana (com paralisações amanhã na CP e nos dias seguintes no Metro) faz lembrar "o que aconteceu nos governos provisórios" logo a seguir ao 25 de Abril: "O PCP estava lá dentro e ca fora minava os governos. Aqui, isto é uma coligação sui generis em que eles estão formalmente muito unidos mas desconfiados uns dos outros".
Mário Centeno 'esteve francamente mal' no Parlamento'
Sobre o debate do programa do Governo, há uma semana, na Assembleia da República, Marques Mendes considerou-o "globalmente frouxinho", mas que tanto o primeiro-ministro como a oposição saíram-se bem.
António Costa "conseguiu uma grande sintonia com os parceiros do BE, PCP e Verdes" e "teve um discurso moderado". Mas quem "foi uma desilusão e esteve francamente mal", na sua opinião, foi o ministro das Finanças: "Mário Centeno não falou nada de economia e Finanças, falou de política e no pior sentido, da politiquice. Parecia um deputado e fica-lhe mal isto, um ministro das Finanças devia estar acima disto. Em segundo lugar, acho que está deslumbrado com o facto de ser ministro, parece que fala sempre com a preocupação de ter um aplauso fácil. Faz lembrar Braga de Macedo, nos anos 90, que era inteligente mas tinha tiradas exageradas e depois estatelou-se ao comprido…".
Finalmente, Mendes nota que foi "a segunda vez no espaço de um mês" que Mário Centeno, através de Sérgio Monteiro (encarregado pelo Banco de Portugal de liderar no terreno as diligências para a venda do Novo Banco), "faz ataques ao governador Carlos Costa, parece um ajuste de contas". "Todo o país sabe que ele tem um problema pessoal com Carlos Costa, que ao que parece não o nomeou para um cargo para o qual ele queria ser nomeado há uns anos. Não sei quem tem razão e acho que isso não interessa a ninguém, mas o ministro das Finanças nao pode servir-se do seu cargo institucional para andar a fazer ajustes de contas", salientou Mendes.