Foi em jeito de balanço dos últimos 10 anos a última mensagem de Ano Novo de Cavaco Silva como Presidente da República. Mas houve também espaço para palavras que podem ser lidas como um aviso a António Costa e à solução governativa apoiada pela esquerda. «Temos o dever de defender o modelo político, económico e social que, ao longo de décadas, nos trouxe paz, desenvolvimento e justiça», frisou Cavaco, que quer ver renovado «o contrato de confiança entre todos os portugueses». Fica clara a preocupação do Presidente com o clima politicamente crispado no país desde as eleições de 4 de outubro.
Mas Cavaco não se quis alongar no tema, preferindo lembrar a forma como viu o país nesta década em que ocupou o Palácio de Belém. «Ao longo de dez anos, percorri o país inteiro, estive com as comunidades da diáspora, contactei milhares de portugueses», lembrou, explicando que os roteiros que iniciou em 2006 foram uma forma de conhecer «de perto» os portugueses e de puxar pelas suas características mais positivas.
«Mais do que os aspetos dramáticos que alimentam o pessimismo e o desânimo, procurei, acima de tudo, valorizar os bons exemplos, enaltecer o trabalho admirável de pessoas e de instituições que promovem o combate à exclusão social, à violência doméstica, ao desemprego e à pobreza, à discriminação das pessoas com deficiência», sublinhou o Presidente da República.
Cavaco está convencido de que este contacto lhe permitiu ficar a conhecer «o país verdadeiro, que muitos agentes políticos desconhecem, que a comunicação social tantas vezes ignora» e encontrar portugueses «que estão a fazer Portugal» e que «nem sempre são conhecidos nem valorizados como merecem». O Presidente acha, aliás, que estes cidadãos pedem pouco: «Pedem apenas que o Estado crie condições para que possam desenvolver o seu trabalho e, depois, que os poderes públicos não estabeleçam entraves à sua atividade».
Para o ano que agora começa, Cavaco Silva tem também um pedido a fazer aos portugueses: para que sejam solidários, nomeadamente tendo em conta a grave crise de refugiados que a Europa enfrenta. «Portugal deve afirmar a sua identidade universalista», defende, lembrando: «Temos, assim, o dever de acolher aqueles que nos procuram para se integrarem na nossa sociedade».