No dia em que começou a sentir as dores do parto, Maria das Neves tinha acabado de sair do trabalho no Instituto Aurélio da Costa Ferreira, onde tratava dos problemas das crianças dos bairros de lata de Lisboa. Pegou no telefone e ligou ao marido para o avisar de que a criança ia nascer. Mas, sem carro, Baltazar não sabia como acudir à mulher.
Foi Maria das Neves quem tomou a iniciativa de pedir à telefonista para ligar para a Comissão Executiva da União Nacional para pedir ajuda a Marcello Caetano, o ex-ministro das Colónias com quem Baltazar trabalhava desde 1940.
Marcello meteu-se com a mulher Teresa no seu Vauxall e foi buscar a grávida. Mas o percurso do Areeiro a São Sebastião da Pedreira foi em si mesmo uma aventura. Marcello Caetano tinha tirado a carta depois dos 40 e era um péssimo condutor, que demorava uma eternidade para estacionar.
Com todos os percalços do dia, o primeiro filho de Baltazar e Maria das Neves haveria de nascer já depois da meia-noite do dia 12 de dezembro de 1948.
O pai assistiu ao parto, coisa rara à época, mas talvez explicada pelo facto de ser um estudante de Medicina, e decidiu dar-lhe o nome do amigo que já tinha sido seu padrinho de casamento. Ficou Marcelo Nuno, para se distinguir de Marcello, que haveria para sempre de o tratar pelos dois nomes.
Muitas vezes Marcelo deixou que se tomasse por certo ser afilhado de Caetano, mas na verdade aquele que foi uma das mais fortes figuras do salazarismo, não era seu padrinho. Marcello recusou o convite de Baltazar por achar que era demasiado velho para assumir o encargo de ficar responsável pela educação de Marcelo Nuno, caso acontecesse alguma coisa aos seus pais. Tinha 43 anos.