“E acabou o passeio da Miss Portugal”, escreve no Facebook o comentador Daniel Oliveira, que acha que “Sampaio da Nóvoa despiu Marcelo do travestismo político que anda a experimentar há dois meses”.
Para Daniel Oliveira, o “inexperiente” Nóvoa “atrapalhou” Marcelo, entrando «a matar» e conseguindo que “a simpatia agradável de Rebelo de Sousa se desfizesse “.
“Depois de exibir os galões das posições que tomou e da experiência política que tem, Marcelo viu-se obrigado a esconde-los. O político que tomava posições enquanto Sampaio da Nóvoa se calava, afinal falava como “analista” e por isso não deve ser recordado. O homem com experiência de governo era apenas secretário de Estado e não deve ser responsabilizado. O passeio de Marcelo foi atrapalhado”, analisa Oliveira.
A socialista Maria do Rosário Gama também gostou da forma como o candidato que apoia se comportou no estúdio da SIC. “Ficou ainda mais clara a diferença entre um a pessoa que se rege por uma Carta de Princípios (e não programa de governo, como Marcelo insinuou) e alguém que ainda não trouxe nenhuma ideia, a não ser contradizer-se relativamente a diferentes posições”, escreveu no Facebook.
A dirigente da APRe! critica mesmo um dos argumentos mais esgrimidos por Marcelo, o de que Nóvoa não tem currículo político para chegar à Presidência. “Então o Professor não distingue vida política de vida partidária? E é preciso ter feito política partidária para se concorrer a Presidente da República? Que eu saiba, essa condição não consta da Constituição Portuguesa”, questiona.
Outros dos argumentos várias vezes repetido por Rebelo de Sousa foi o da história do seu adversário, a quem perguntou várias vezes onde estava no 25 de Novembro de 1974. Uma pergunta que indignou Rosário Gama. “E eu pergunto, onde é que Marcelo se encontrava a 24 de Abril de 1974?”, atira a dirigente do PS, que acha que o tom do comentador denotou a irritação de estar a perder o debate.
“As ‘caretas’ e a expressão corporal de Marcelo durante o debate e a sua agressividade, contrastam com a calma e a postura de Sampaio da Nóvoa e são reveladoras do incómodo de quem estava habituado ao monólogo e agora se viu confrontado ao diálogo por alguém que não está disposto a ‘aparar-lhe o jogo’", analisa a professora.
Mas houve outros apoiantes anónimos a usar as páginas de apoio a Nóvoa para fazer comentários do mesmo género.
“A pergunta, através da qual, Marcelo Rebelo de Sousa queria saber onde estava António Nóvoa no 25 de Novembro é uma pergunta desonesta porque foi feita para evitar responder a questões que relacionam Marcelo com políticas e posições que ele pretende ocultar. O que é grave e diz muito acerca do seu caráter. Nóvoa não lhe respondeu e fez muito bem. Eu, no entanto, fiquei a pensar que se fosse critério julgar a possibilidade de alguém assumir um cargo político relevante pelas opções que cada um fez em 25 de Novembro de 1975 (há 40 anos), então Durão Barroso não poderia ter sido primeiro ministro ou, para não me alargar na lista dos nomes, Nuno Crato, ministro da educação”, escreve Rui Trindade, que diz que “é interessante notar, em nome da memória e da história, que Ramalho Eanes, que todos sabem onde estava no 25 de Novembro, seja um dos cidadãos que apoia publicamente António Nóvoa. Porque apoia Nóvoa e não Marcelo também todos sabem porquê”.
Esta tarde, o primeiro-ministro António Costa também já fez declarações à SIC, explicando ter gostado do que ouviu no debate e sublinhando que o frente-a-frente “não foi um passeio” para Marcelo Rebelo de Sousa.
Mas não é só entre os apoiantes de Nóvoa que há críticas à forma como Marcelo se comportou no duelo televisivo com um dos seus principais adversários. O jornalista Vítor Matos, autor da biografia “não autorizada, mas consentida” de Rebelo de Sousa também comentou o debate no Facebook, considerando que o comentador “exagerou” no tom agressivo e questionando os efeitos que essa atitude poderá ter no eleitorado de centro-esquerda que Marcelo quer conquistar para ganhar à primeira volta as presidenciais de 24 de janeiro.
A lição que Marcelo aprendeu com Sampaio
“Para quem estranhou a inusitada agressividade de Marcelo, uma explicação: lessons learned. Lembremo-nos que o homem perdeu a câmara de Lisboa em 1989 porque perdeu um debate televisivo com Jorge Sampaio. Foi um trauma. E perdeu o debate com Sampaio (lá está, também era Sampaio), porque foi compassivo, delicado, herbívoro. Deixou o adversário à solta. 26 anos depois, fez o contrário. Foi carnívoro”, comenta o jornalista, que acredita que Marcelo pode, contudo, ter pecado por excesso.
“Marcelo fez o que tinha a fazer mas exagerou. Nóvoa só conseguiu tornar o seu guião numa mensagem eficaz na parte final. Cada um fez o pleno junto do seu eleitorado. Resta saber se o tom de Marcelo cola no centro-esquerda que ele anda a namorar. Duvido”, analisa Vítor Matos, que acha que Rebelo de Sousa mostrou neste frente-a-frente uma “faceta totalmente desconhecida”.
Depois de ter sido sempre cordial e delicado com os adversários, mudou de tática: “ Foi agressivo. Foi indelicado. Foi acutilante. Desconversou”.
No grande debate desta sexta-feira, Vítor Matos acha que o professor vai corrigir o tiro. “Presumo que a atitude com Maria de Belém venha a ser mais moderada”, antevê na sua página do Facebook.