E foi contra Sampaio da Nóvoa a primeira vez que Marcelo se revelou mais combativo. Nos restantes frente-a-frente, usou uma estratégia de não confronto. “Concordo consigo” terá sido uma das frases mais repetidas pelo ex-líder do PSD, apoiado pelo seu partido e pelo CDS, que se promoveu como o construtor de pontes (“consensos, consensos, consensos”, disse) e despiu o fato da ideologia, não receando comprometer a ala mais conservadora dos seus apoiantes.
Marisa Matias reagiu com espanto quando Marcelo declarou o seu apoio à adoção por casais do mesmo sexo e garantiu que está confortável com a lei do aborto. O professor defendeu António Costa, contra o ‘radicalismo’ da candidata bloquista no dossiê Banif/Orçamento retificativo. A confiança no Banif e no governador do Banco de Portugal valeram-lhe, aliás, ataques de todos.
Frente a Paulo Morais, Marcelo concordou com o combate à corrupção e ouviu impassível o ataque violento aos ‘advogados-lóbistas’ do Parlamento. E no debate mais singular da história dos confrontos presidenciais na TV, tratou Vitorino Silva (o Tino de Rans) por “calceteiro de excelência”, num registo de familiaridade que foi recorrente com outros oponentes.
Belém autojustificativa e Morais monotemático
Mas o antigo BES deu dores de cabeça a outra candidata. Maria de Belém abandonou o sorriso quando Paulo Morais, e depois Henrique Neto, a acusaram de falta de transparência por acumular cargos no grupo Espírito Santo Saúde com a presidência da comissão parlamentar da área. Morais, diga-se, conseguiu afunilar todos os seus debates ao tema da corrupção. Quanto a Maria de Belém só ao quarto debate voltou a um estilo menos confrontacional.
Sampaio da Nóvoa preferiu – até lhe surgir Marcelo – uma atitude serena. Segundo a avaliação do SOL nunca perdeu um debate, mas teve dificuldade em impor o seu discurso, empatando dois. Um exemplo disso foi o debate contra Paulo Morais – o ex-reitor da Universidade de Lisboa bem tentou mudar o centro da discussão para os temas que lhe são caros, como a aposta no conhecimento e na inovação ou no combate às desigualdades, sem quase nunca conseguir sair do ‘buraco negro’ do seu posicionamento face à corrupção.
Marcelo passa ao ataque contra Belém e Nóvoa
“Intriguista”, “maliciosa”, “mentiroso”, “hiperativo” – os insultos sucederam-se no debate de ontem entre Marcelo Rebelo de Sousa e Maria de Belém Roseira. Mesmo que Marcelo tenha começado por dizer não ter adversários – “os meus adversários são os problemas dos portugueses” – rapidamente a discussão descambou para ataques pessoais como raras vezes se tem visto em debates eleitorais.
O frente-a-frente com Maria de Belém acabou por ser um prolongamento do duelo da noite anterior frente a Sampaio da Nóvoa, com a discussão a centrar-se na personalidade de Rebelo de Sousa. Uma discussão que acabou por ser iniciada pelo próprio, que acusou Belém de ter vestido o papel de “psicóloga” na campanha, ao falar da sua hiperatividade e das horas que dormia.
A socialista não recuou, porém, em nenhuma das acusações que tinha feito ao “hiperativo” e “intriguista” Marcelo e reeditou as contradições que Nóvoa tinha apontado na quinta-feira, enganando-se, porém, em algumas referências históricas.
Marcelo acusou ainda Maria de Belém de, com a sua candidatura, fazer uma “intriga” que põe socialistas contra socialistas e questionou a falta de apoio de António Costas. “Acha normal uma antiga presidente do partido não ter o seu apoio?”, questionou Marcelo, que voltou a ser acusado de se afastar artificialmente de PSD e CDS.
O primeiro round
Já o debate com Sampaio da Nóvoa estivera longe de ser um passeio para Marcelo que, pela primeira vez, se mostrou irritado e usou um tom mais agressivo do que nos outros frente-a-frente.
Munido de uma coleção de recortes, Nóvoa confrontou Rebelo de Sousa com as suas contradições, colando-o o mais possível ao Governo de Passos e a Cavaco e às políticas de austeridade, depois de o candidato apoiado pelo PSD e pelo CDS o ter acusado de querer ser “um Presidente de fação”, do país de esquerda contra o país de direita, por se apresentar como o candidato do “tempo novo” que trouxe o Governo do PS apoiado pela esquerda.
Marcelo criticou a falta de experiência política de um candidato que quer “passar de soldado raso a general” e chegar a Belém sem nunca ter passado por um cargo político. “Onde é que esteve no 25 de novembro?”, foi perguntando ao reitor que acusou de ter “uma história de vazio”. Nóvoa não deu parte fraca e evocou o apoio de Eanes, Soares e Sampaio, que o consideram “qualificado” para o cargo.