Num Congresso que corre o risco de ficar sem história, foi posta a circular a ideia de que poderia haver uma homenagem a Cavaco. O momento era propício por marcar o fim da vida política de um ex-líder que há 30 anos não sai de cena e que chegou a cunhar com o nome de “cavaquismo” uma década da vida nacional.
O problema é que, se Cavaco Silva é uma das figuras mais importantes do panorama nacional dos últimos 30 anos, é também uma personagem controversa, que saiu de Belém com os níveis de popularidade mais baixos de que há memória num Presidente da República.
No auge da popularidade do Presidente Marcelo – que faz tudo para se apresentar como a antítese do seu antecessor – uma homenagem a Cavaco Silva tinha ainda outro problema. Seria colar Pedro Passos Coelho e o PSD ao passado, precisamente numa altura em que António Costa e o PS fazem dessa colagem uma estratégia política de desgaste do líder da oposição.
José Matos Correia, secretário-geral do PSD, assegura que “não vai haver” nenhuma homenagem ao ex-Presidente da República e até garante que isso “não chegou a ser equacionado”.
Mas fontes do PSD asseguram que a ideia foi mesmo ponderada no partido na altura em que o Diário de Notícias a avançou há dois dias.
Os defensores de uma homenagem a Cavaco
Nessa altura, várias figuras sociais-democratas contactadas pelo DN elogiavam mesmo a hipótese de marcar o Congresso com um agradecimento ao contributo de Cavaco para a vida nacional.
Pedro Pinto, vice-presidente do partido, dizia ao DN que, com ou sem homenagem formal, o Congresso "terá sempre uma palavra de congratulação por aquilo que foi o trabalho dos últimos anos do presidente da República". E José Eduardo Martins, antigo secretário de Estado e crítico da direção de Passos Coelho, afirmava achar "muito bem" que se a convenção social-democrata marcasse com uma homenagem o fim do ciclo de Cavaco na vida política ativa.
Também ao DN, o vice-presidente da bancada parlamentar do PSD, Hugo Soares, defendia que "o país, deve estar muito agradecido ao professor Cavaco Silva" e não poupava elogios ao ex-líder.
"No reino da hipocrisia e da demagogia disseram-se coisas inenarráveis sobre aquilo que foi a atuação do professor Cavaco Silva como presidente da República, e Cavaco Silva foi um presidente de excelência que cumpriu o seu mandato no respeito total pela separação de poderes, mas sobretudo pelo cumprimento escrupuloso daquilo que são as funções de um presidente da República, magistério de influência que muitas vezes foi desconhecido, mas foi absolutamente essencial para que Portugal pudesse ter num momento difícil a estabilidade política necessária", afirmava Hugo Soares ao Diário de Notícias.
A estas vozes juntavam-se as dos ex-ministros de Cavaco Silva Joaquim Ferreira do Amaral e Eduardo Catroga que defendiam ser no mínimo justo que o partido aproveitasse o Congresso de Espinho para homenagear o antigo primeiro-ministro.
"Foi uma pessoa de enorme importância para o PSD e faz todo o sentido homenageá-lo no congresso. Era até complicado deixar passar esse momento. É muito oportuno porque ele acaba um ciclo de enorme importância e é uma homenagem que tem valor por si a uma pessoa que diz muito ao PSD e que desempenhou cargos de grande relevo – e quanto a mim saiu-se muito bem neles", afirmava Ferreira do Amaral ao Diário de Notícias.
"Durante dez anos foi o melhor primeiro-ministro da história democrática da vida política independente do país e durante 10 anos o melhor PR da história democrática da vida política independente do país (independentemente das opiniões que se tenha sobre o segundo mandato após a bancarrota a que nos levou o governo de José Sócrates e de que Cavaco sofreu as vicissitudes de uma população indignadíssima). Mas desempenhou sempre bem as suas funções e é de longe o português que mais contribuiu para a vida do país, por isso todas as homenagens que lhe façam – e acredito que virão a fazer – são poucas. E o PSD deve-lhe uma", comentava Eduardo Catroga ao DN.