6 meses de Governo: a 1ª prova de aferição

Passaram seis meses desde que António Costa conseguiu assinar três acordos paralelos com o BE, PCP e PEV para formar Governo depois de rejeitado o programa do Executivo PSD/CDS. Entre o difícil exercício de manter coesa uma ‘geringonça’ de partidos diferentes, que tendem a aumentar a despesa pública, e conter o défice, o SOL avalia…

Prémio Revelação

António Costa

Tem-se revelado um negociador exímio, seja a nível do acordo com os partidos de esquerda que apoiam o seu Governo, seja nos exigentes corredores de Bruxelas. Bem melhor do que muitos anteviam, dada a fraca campanha eleitoral que protagonizou e as suas dificuldades na retórica política. Tem dado resposta a todas as dificuldades de caminho nestes seis meses, como a solução do Banif ou os números do programa de Estabilidade, sem nunca perder a serenidade ou o otimismo. É um osso duro de roer para a oposição.

Pedro Nuno Santos

O secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares é o mecânico-chefe que tem afinado diariamente a ‘geringonça’, procurando fazer coincidir o ritmo, a velocidade e as mudanças do Governo com BE, PCP e PEV, os partidos da base de apoio do Executivo socialista. Nuno Santos é discreto, mas o seu trabalho de bastidores tem sido essencial para evitar desvios e que os parafusos saltem fora, sobretudo nos debates quinzenais que coordena. Já conseguiu esbater a imagem de radical que se lhe colara com o episódio do ‘Não pagamos’.

Cabeça a Prémio

Mário Centeno

Tornou-se a segunda cara mais conhecida deste Governo, dados os constantes problemas e apertos na situação económica e financeira do país. Da periclitante situação da banca em geral ao colapso do Banif, do Orçamento do Estado para 2016 emendado e reemendado por imposição de Bruxelas aos enormes aumentos dos combustíveis, do Programa de Estabilidade aprovado mas execrado pela esquerda ao ‘anexo secreto’ ou ‘plano B’, o ministro das Finanças tem estado sempre na primeira linha – política e mediática. Obrigado a rever sucessivamente as suas previsões excessivamente otimistas, é o ministro que mais arrisca a sua cabeça com o (in)cumprimento das metas orçamentais e a desfavorável evolução dos números da economia, quer de Portugal quer da Europa.

Não haverá mesmo medidas adicionais este ano? Nem plano B com mais impostos indiretos? Nem Orçamentos retificativos? O futuro deste ministro depende das respostas a estas perguntas.

Na sombra

Maria Manuel Leitão Marques

A ministra da Presidência e da Modernização Administrativa foi a mãe do Simplex, a tão elogiada reforma de simplificação administrativa  que Sócrates lançou em 2005, e do agora polémico (no nome) Cartão de Cidadão. Neste Governo, coordena a nova reforma administrativa e é uma das figuras com influência política junto de António Costa, mas tem ficado mais na sombra. Dividiu a ‘Volta Simplex’ ao país com a sua secretária de Estado Adjunta e da Modernização Administra, Graça Fonseca.

Ana Paula Vitorino

António Costa reservou-lhe, logo de início, um Conselho de Ministros dedicado exclusivamente ao mar, no qual participou Cavaco Silva. Mas, passado esse momento mediático, a ministra do Mar aposta mais no trabalho de bastidores em Bruxelas para conseguir, por exemplo, o aumento da quota de sardinha. Por ora, a face mais visível da ministra (casada com o também ministro Eduardo Cabrita) é o lançamento de obras em vários portos do país.

Eduardo Cabrita

O ministro Adjunto é um dos braços direitos de Costa na coordenação política, mesmo que só apareça em sétimo lugar na hierarquia do Governo. Chega a ministro depois de ter sido, por duas vezes, secretário de Estado, com Guterres e Sócrates. Homem de confiança do primeiro-ministro, sabe que com Costa a máxima ‘a César o que é de César’ é para ser levada a sério e reparte a coordenação com o líder parlamentar do PS.

Mariana Vieira da Silva

A pasta da secretária de Estado Adjunta do primeiro-ministro é, por definição, discreta. Mas a filha do ministro da Segurança Social, Vieira da Silva, ganhou rapidamente o seu espaço e peso político no Governo, acompanhando o primeiro-ministro ininterruptamente, mesmo em reuniões e dossiês politicamente mais sensíveis. Da extensa lista de 41 secretários de Estado do Executivo, é a única, com Pedro Nuno Santos, a ganhar o direito a uma influência igual à dos ministros.

Serviços Mínimos

Augusto Santos Silva

O ministro dos Negócios Estrangeiros tem feito o que lhe compete: medir o que diz e gerir a sua comunicação com pinças. No arranque do mandato, partilhou o seu ‘sonho como sociólogo’ de assistir a um concerto de Tony Carreira e isso fez antever o pior. Mas remeteu-se à sombra e à contenção.

Capoulas Santos

O ministro da Agricultura parece ter sido surpreendido pelo protesto nas ruas dos suinicultores e dos produtores de leite. E diz que a culpa é da crise de mercado que impede o Governo de decidir. Ainda assim, procura influenciar Bruxelas a decisões mais favoráveis aos produtores portugueses. Na frente interna, negoceia com a banca o financiamento de projetos aprovados que ultrapassem a dotação orçamental.

Vieira da Silva

O ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social reocupa, com menor protagonismo e margem de manobra, uma pasta onde deixou uma reconhecida marca política. Admite publicamente que há um problema na Segurança Social, ainda não tem uma solução, mas diz que a proposta da direita para a implementação de um sistema de plafonamento no sistema seria “negativa e inviável em Portugal”.

Pedro Marques

Deu a cara pela reversão da privatização da TAP, mas depois veio a perceber-se que, afinal, a negociação pelo lado do Governo foi conduzida a meias com Lacerda Machado, o amigo de Costa. Recentemente, o ministro do Planeamento e das Infraestruturas foi o rosto da inauguração do túnel do Marão, uma obra lançada por Sócrates – em cujos Governos fora secretário de Estado, no Ministério de Vieira da Silva. Marques tem agora na sua pasta a importante repartição e execução dos fundos comunitários.

Francisca Van Dunem

A ministra da Justiça tem gerido a pasta sem sobressaltos, mas ainda não se conhecem grandes medidas da sua autoria. Está a preparar emendas ao mapa judiciário e diz que não haverá grandes alterações nos eixos fundamentais. Quer criar 27 secções de proximidade e reverter algumas medidas da sua antecessora.

Boa imagem 

Adalberto Campos Fernandes

O ministro da Saúde tem recebido muitos elogios do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, que lhe augura um futuro de “triunfos ao serviço do país”. Adalberto Campos Fernandes coincide com o Presidente no diagnóstico de muitos dos problemas que afetam o setor da Saúde, o que leva Belém a ver a sua pasta como uma das áreas onde será menos complicado os partidos chegarem a consensos políticos. A sua escolha para a tutela foi consensual em vários setores da Saúde e até em quadrantes políticos da oposição.

Constança Urbano de Sousa

A ministra da Administração Interna tem conseguido serenar a onda reivindicativa nas forças de segurança e isso dá-lhe o estatuto de um dos membros do Governo com melhor imagem. Tem intervenções públicas ponderadas, revela conhecer o terreno, não se aventurando por territórios desconhecidos e até chorou ao abraçar a mãe de um agente morto em serviço em 2015 durante uma patrulha na Amadora. Mas os polícias não esquecem os seus cadernos de reivindicações. E a coisa pode mudar de figura.

Só arranjam sarilhos

Tiago Brandão Rodrigues

O ministro da Educação está desde a primeira hora debaixo de fogo: mal chegou, decretou o fim de provas de exames para criar novas provas de aferição e viu o secretário de Estado da Juventude e do Desporto demitir-se com estrondo. O fim dos contratos de associação obrigou o Governo a sair em sua defesa.

Manuel Caldeira Cabral

Depois de ter subido o imposto sobre os combustíveis, o ministro da Economia pediu aos portugueses que não fossem abastecer a Espanha, o que lhe valeu um vendaval de críticas e anedotas. Procura agora compensar o arranque atribulado com o anúncio de milhões para as empresas. 

Azeredo Lopes

O ministro da Defesa arranjou o primeiro sarilho a valer para o Governo: veio a público classificar de “inaceitável” a discriminação no Colégio Militar e foi acusado de “ingerência” pelos oficiais das Forças Armadas, levando à demissão do respeitado chefe do Estado-Maior do Exército. Costa ainda teve que sair, incomodado, em sua defesa.

Ilustres desconhecidos

Manuel Heitor

Foi secretário de Estado de Mariano Gago e assumiu que quer continuar o legado do ex-ministro da Ciência e Ensino Superior. Heitor, agora titular da pasta, tem sido um dos ministros que menos propostas apresenta para o setor. Em Leiria, enfrenta uma guerra por recusar passar o Instituto Politécnico a Universidade.

José Matos Fernandes

O ministro do Ambiente deu a cara pelo Governo na guerra dos táxis contra a Uber e tenta, em vão, consensualizar as duas partes. Anunciou entretanto concursos de 60 milhões de euros para projetos de combate às alterações climáticas. Mas ainda não se lhe conhece uma estratégia clara para o ambiente.

Luís Filipe Castro Mendes

Entrou para substituir João Soares na pasta da Cultura, e nunca mais deu sinal de vida. Está no palácio da Ajuda a estudar dossiês e a definir objetivos. Nos intervalos, faz uma ou outra visita ao lado do primeiro-ministro.