BE: discurso único modera ala esquerdista

Há dois anos, a luta entre a moção E (herdeira da tendência da UDP, de Luís Fazenda, Joana Mortágua e Pedro Filipe Soares) e a moção U (de João Semedo, Catarina Martins, Marisa Matias e Jorge Costa) foi para lá de renhida. A moção mais esquerdista teve apenas menos oito votos que a vencedora, afeta…

Convergência

A tendência de Luís Fazenda nunca digeriu o apoio nas presidenciais a um socialista (Manuel Alegre) como antes tinha rejeitado a aposta em Lisboa no vereador José Sá Fernandes. Odeclínio eleitoral do BE, depois de 2011, deu força à crítica interna da ala esquerdista do Bloco. «Percebe-se que foi indevido o apoio a Manuel Alegre. Quando ele apoiou o OE 2011 colocou o BE indiretamente a apoiar Sócrates», criticava a moção E, intitulada Bloco Plural, Fator de Viragem!. As futuras aproximações ao PS eram arrumadas em poucas palavras. «É errado desejar que o BE possa adornar um governo à la Hollande», defenderam Luís Fazenda e Pedro Filipe Soares.

Economia radical

A moção escrita pelos dirigentes da tendência UDP defendia em 2014 a «desvinculação imediata do Tratado Orçamental», a «reestruturação da dívida pública rejeitando a dívida ilegítima» e a «nacionalização do setor bancário para uma política de defesa da economia e criação de emprego e desobediência à austeridade europeia». Otexto exigia a «nacionalização dos bens comuns privatizados», e «uma reforma fiscal que tribute o capital (…) baixando os impostos sobre quem vive do seu trabalho».  E claro, a «saída de Portugal da NATO». A moção comum de 2016 não reivindica a saída da NATO e a referência à desvinculação do Tratado Orçamental perde o anterior sublinhado de urgência. 
«Só é possível salvar o Estado Social, relançar o investimento e criar mais emprego, rejeitando a chantagem da dívida, renegociando-a de forma profunda e assumindo o controlo público da banca», diz agora o BE. Mas também esta formulação remete para um ‘devia ser’ que não implica ação imediata.

Críticas ao PCP

A rivalidade revolucionária entre a UDP e o PCPdeixou sequelas prolongadas. Em 2014, a moção E registava que «a disponibilidade unitária» do PCPse esgotava na CDU. E demarcava-se dos «dirigismos ou correias de pensamento» que identificava com os comunistas nas relações com sindicatos e movimentos sociais. Acusava por último o PCPde fazer o «branqueamento» de regimes opressivos e de absolver «o regime chinês de exploração, censura e ditadura».
Em 2016, a diferença é notória. OBE «está disponível para encontrar novas formas de diálogo e cooperação com o PCP», lamentando apenas «a ocorrência de episódicas expressões de sectarismo» por parte dos comunistas.