Governo e BE acertaram anúncio

Pedro Nuno Santos coordenou tudo, mas não previu o efeito da forma assertiva como o BE tentou reclamar paternidade do imposto.

Ainda não eram 21h30 da noite de quarta-feira da semana passada quando Pedro Nuno Santos soube que o Jornal de Negócios ia sair no dia seguinte com a notícia de um novo imposto para incidir sobre património imobiliário global com valor acima de 500 mil euros. Com a página a caminho da gráfica e sem outra maneira de gerir o assunto, o secretário de Estado avisou o PS de que seria preciso reagir de manhã.

Pelo meio, foi acertada com o BE uma declaração para anunciar o acordo que estava a ser desenhado no seio de um dos grupos de trabalho que os bloquistas mantêm com o Governo. Mariana Mortágua preparou uma declaração à imprensa nos Passos Perdidos da Assembleia da República e ainda não eram nove horas da manhã de quinta-feira já a assessoria de comunicação do BE alertava os jornalistas para a conferência de imprensa.

«Fizemo-lo [o anúncio do imposto] com o conhecimento do Governo e por isso enquadrada numa estratégia mediática aceite pelas duas partes, que estiveram à mesa tanto na elaboração da proposta, quer sobre a forma como tornar pública esta proposta», afirmou, de resto, esta semana à TSF, o líder parlamentar bloquista Pedro Filipe Soares.

A diferença foi, contudo, de modo. O deputado do PS Eurico Brilhante Dias fez declarações de tipo damage control, frisando o facto de não estar ainda fechado nem o patamar mínimo de tributação nem a taxa do imposto e lembrando que o PCP era também parte do estudo de uma solução que ainda não estava fechada. Mariana Mortágua foi assertiva e tentou capitalizar os efeitos de uma medida que o BE acreditava ser bem acolhida pelo seu eleitorado.

O que nem uns nem outros esperavam foi o verdadeiro terramoto provocado por uma proposta que fez PSD e CDS acusar o governo das esquerdas de «saque à classe média». Depois da tempestade, Pedro Nuno Santos teve de deixar claro em declarações ao DN que «os anúncios sobre o Orçamento são feitos pelo Governo». António Costa não gostou do ruído causado pelo tema e já deixou bem claro que estão proibidas quaisquer declarações sobre Orçamento antes de o documento entrar no Parlamento no dia 14 de outubro.