Marcelo irrita Passos

Caiu mal no núcleo duro de Pedro Passos Coelho o convite para almoçar em Belém ter sido apresentado como uma demonstração de que Marcelo Rebelo de Sousa quer ajudar o líder a continuar à frente do PSD até às legislativas.

Pedro Passos Coelho quer distância de Marcelo Rebelo de Sousa. A relação entre líder do PSD e Presidente da República é marcada por uma desconfiança que se tem vindo a agravar desde que o núcleo duro de Passos começou a associar a Belém as movimentações de oposição interna ao líder.

A ordem é, por isso, para evitar comentários ou aproximações, numa atitude de frieza institucional com a Presidência. A distância é tanta que o gabinete de Passos não confirma sequer se o líder social-democrata aceitou o convite de Rebelo de Sousa para um almoço em Belém, limitando-se a remeter para a agenda presidencial. «Nunca comentámos qualquer a relação com Belém. Com este Presidente, mantemos a mesma relação institucional», explica fonte próxima de Passos.

O SOL sabe, contudo, que caiu mal no círculo próximo de Passos Coelho a notícia do Expresso de ontem sobre um convite para o almoço com o Presidente. O título «Marcelo dá a mão a Passos» deu lugar a comentários sarcásticos entre os próximos de Passos, que sabem que a relação entre os dois nunca foi boa e está longe de ter melhorado.

A estrela de Belém que guia os três reis magos

«Dá-me vontade de rir», comentava um leal passista. Com Rui Rio, Paulo Rangel e até Morais Sarmento a posicionarem-se para um desafio à liderança, há até quem diga que os três Reis Magos que Passos Coelho disse – no jantar de Natal com o grupo parlamentar do PSD – esperar que apareçam em janeiro estejam a ser guiados «por uma estrela de Belém». A metáfora é natalícia, mas dá nota da falta de boa vontade entre a São Caetano à Lapa e o Palácio de Belém.

Isto porque na direção social-democrata identificam-se algumas movimentações de oposição interna com círculos próximos de Marcelo. De resto, a pressão sobre a liderança de Passos acentuou-se depois de o Presidente apontar as autárquicas como um momento para um «novo ciclo político». Quem é fiel ao líder notou isso e os recentes discursos que dão sinais de que Rebelo de Sousa pretende estabilidade não só no Governo, mas também na oposição não foram suficientes para afastar esta ideia dos que rodeiam Passos Coelho.

Os avisos do conselheirode Marcelo a Passos Coelho

A tensão entre o líder da oposição e o Presidente da República já foi motivo para um aviso de um dos conselheiros mais próximos de Marcelo Rebelo de Sousa, Luís Marques Mendes. 

«Pedro Passos Coelho tem de ter noção de que o seu adversário é António Costa e não Marcelo Rebelo de Sousa e de que está a concorrer para ser chefe de Governo e não para ser chefe de Estado», avisava Luís Marques Mendes há duas semanas no seu espaço de comentário na SIC. Mendes dizia mesmo na altura que era «um erro» Passos entrar em polémica com Marcelo, admitindo, porém, que «entre Passos Coelho e Marcelo Rebelo de Sousa nunca passou grande química».

As palavras de Marques Mendes continham um alerta sério para Passos Coelho sobre a relação de forças com Marcelo. «O presidente Marcelo é evidentemente uma referência de popularidade, de prestígio, de estatuto, de autoridade, por isso Passos Coelho, numa guerra com o Presidente, perde sempre, como qualquer líder da oposição perderia», frisava, para concluir que um combate entre os dois é feito «com armas desiguais».

O aviso surgia depois de Passos Coelho ter demonstrado publicamente algum incómodo com o aparente apoio de Marcelo a António Costa, a cujo Governo chegou a dar a nota simbólica de 15 num comentário aos microfones da TSF. 

«Ainda bem que ele [Marcelo Rebelo de Sousa] não é líder do PSD», dizia, então, Passos. Era só mais um comentário ácido desde que no Congresso do PSD no início do ano Passos Coelho se tinha começado a referir ao então recém-eleito Presidente como «o dr. Rebelo de Sousa» e a prova de que nada mudou nestes meses entre os dois.

Na verdade, o que há é um crescendo de irritação e distanciamento, cada vez mais difícil de esconder, apesar da postura intitucional que Passos Coelho gosta de preservar. Para já, Passos vai tentar evitar fazer comentários e alimentar polémicas públicas com o Presidente. Mas um almoço em Belém está longe de ser suficiente para uma aproximação entre os dois.