O ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) entre 2005 e 2007, Carlos Santos Ferreira, garantiu que não houve pressão de José Sócrates para que fosse convidado para a presidência da Caixa Geral de Depósitos. “Nunca falei com o primeiro-ministro antes de ser convidado pelo professor Teixeira dos Santos”, revelou aos deputados na audição da comissão de inquérito à gestão da CGD e acrescentou: “Que eu saiba não houve pressão”.
Santos Ferreira disse ainda que conheceu Teixeira dos Santos quando era secretário de Estado de Sousa Franco. “Não eram relações particularmente próximas”.
Santos Ferreira garantiu, no entanto, que “achava que tinha as qualificações necessárias para exercer as funções. Se assim não fosse não as teria aceite”. Já quando questionado sobre as razões para o convite disse apenas: “Na minha escola não se perguntam aos acionistas porque fazem as coisas. Perguntei-lhe o que esperava por mim. Nunca me passaria pela cabeça perguntar a um acionista porque me convida”.
O ex-presidente disse, no entanto, que com o que sabe hoje “teria recusado o convite” para presidir ao banco do Estado.
Recorde-se que Santos Ferreira juntamente com Armando Vara e Francisco Bandeira foram convidados para a administração da CGD e todos eles têm uma ligação em comum, o Partido Socialista.
Aliás, ainda na semana passada, quando Teixeira dos Santos esteve na mesma comissão assumiu a escolha de Santos Ferreira e Armando Vara, afastando qualquer interferência do então primeiro-ministro, José Sócrates. “Nunca recebi do engenheiro Sócrates nenhumas indicações sobre os nomes das pessoas que deviam entrar para a administração da CGD. A decisão foi minha, sem ouvir o engenheiro Sócrates. Transmiti-lhe a minha escolha”, afirmou.
No entanto, estas declarações contrariam as afirmações que foram feitas anteriormente por Luís Campos e Cunha que, há duas semanas, revelou aos deputados que tinha sofrido pressões por parte de Sócrates para afastar a administração do banco público dirigida por Vítor Martins e nomear uma nova equipa comandada por Santos Ferreira.
Imparidades Já quando confrontado pelas imparidades existentes na Caixa, o ex-presidente garante que “o volume de imparidades é consistente com as do setor”, remetendo para uma carta circular de 2014 onde constam as imparidades pela sua origem, garantindo que se pode ver que “o montante das imparidades no período entre 2005-2007, 2008-2010 e 2009-2013 são muito similares e equilibrados”.
Santos Ferreira não avançou com informações sobre a forma como era concedido o crédito acima de 50 milhões de euros, dizendo apenas que continuou a usar o método que já vinha da liderança de Vítor Martins. Já em relação aos créditos que poderiam ter sido concedidos durante a sua liderança a empresas como a Auto-estradas Douro Litoral, Grupo Lena, Grupo Espírito Santos e Pescanova, o ex-presidente disse apenas que teria de o confirmar em documentos que não tem agora acesso, uma vez que não são públicos. “Iria estar a mentir se respondesse sim ou não”, salientou.
Um argumento que voltou a ser usado quando foi questionado sobre os empréstimos que foram concedidos durante o seu mandato para comprar ações do BCP. “Não recordo os nomes”, mas acrescentou que “eram uma prática normal na maioria das instituições nacionais e estrangeiras e não eram um exclusivo do banco público”.