Autárquicas. PSD tem ordens para não atacar Cristas em Lisboa

Há um pacto de não agressão nos concelhos em que PSD e CDS não têm coligação. Passos quer evitar leituras nacionais das autárquicas

O PSD vai ter de fazer campanha em Lisboa sem atacar Assunção Cristas. A ordem vem diretamente de Pedro Passos Coelho, que deu indicações às estruturas locais dos concelhos onde não haverá coligação com os centristas para evitarem qualquer ataque ou conflito com o CDS durante a campanha para as autárquicas.

Passos Coelho quer evitar qualquer leitura nacional que possa ser tirada de uma disputa mais aguerrida entre PSD e CDS nas eleições locais. É esse o objetivo por trás da ordem dada às suas tropas, mas as indicações da direção não agradam a todos.

A situação é particularmente complicada em Lisboa, onde a concelhia não vê com bons olhos uma mordaça que a impede de atacar aquela que é a candidata que irá falar mais diretamente ao eleitorado do centro-direita que o PSD quer disputar.

Morder a língua duas vezes

“Já basta ainda não termos candidato e ainda temos de andar a deixar passar a forma como a Assunção Cristas anda a fazer campanha”, queixa-se ao i um militante de Lisboa.

A campanha ainda nem sequer arrancou oficialmente, mas Cristas anda no terreno e já houve pelo menos duas situações em que o PSD-Lisboa teve de “morder a língua” para respeitar as orientações de Passos Coelho e não responder à letra à candidata do CDS.

Os sociais-democratas registaram a contradição entre o que fez a ministra Assunção Cristas na lei das rendas e a candidata Assunção Cristas, que agora defende as lojas históricas através de uma proteção às rendas mais antigas. “O que propõe agora é exatamente o contrário do que fez quando estava no governo”, aponta uma fonte social- -democrata.

No PSD-Lisboa também não caiu bem a forma como Cristas apareceu a protestar contra a taxa de proteção civil, assumindo aquela que foi uma das grandes bandeiras da oposição social–democrata a Fernando Medina.

“Só falta agora vir defender um aumento da taxa turística”, comenta a mesma fonte, recordando o histórico de oposição do CDS às “taxas e taxinhas”, como lhes chamou o ministro centrista Pires de Lima quando criticava essa forma de aumentar a receita da Câmara de Lisboa à custa do turismo.

Perante esta impossibilidade de fazer uma campanha que ponha em causa Assunção Cristas, e ainda sem candidato anunciado para Lisboa, o i sabe que há quem na concelhia já esteja a ponderar voltar atrás e apoiar a candidata centrista.

No entanto, essa é uma possibilidade já afastada por Pedro Passos Coelho, que deverá definir o candidato para Lisboa no dia 21 de março, altura em que será aprovado pelo partido o último lote de candidatos autárquicos. Neste momento, já está decidido um terço dos que correrão com as cores sociais-democratas.

A alfinetada de santana

O que já está concluído é o programa eleitoral desenhado por José Eduardo Martins. O i sabe que o documento está pronto a ser apresentado, mas os sociais-democratas entendem que não há interesse nem condições para o divulgar e debater publicamente enquanto a candidatura do PSD a Lisboa não tiver um rosto.

Várias fontes sociais-democratas garantem ao i que Passos já escolheu o candidato a Lisboa, mas que o nome não está sequer a circular internamente para evitar fugas de informação e mais especulação em torno de nomes.

O tema continua a ser sensível, e ontem, três meses depois de ter recusado ser candidato, Pedro Santana Lopes usou um post de Facebook para recordar que “o assunto – que se saiba – ainda não foi resolvido”. A alfinetada não foi bem recebida no PSD-Lisboa, que queria ter Santana como candidato.