O stresse e a ansiedade são os principais problemas que afetam os trabalhadores bancários portugueses. A redução de postos de trabalho, a ameaça de o seu posto de trabalho acabar e a pressão em torno dos objetivos para vender produtos financeiros são alguns dos fatores que acabam por dificultar o dia a dia de quem está ao balcão de uma instituição financeira.
Mas se para uns esta realidade pode ser encarada de forma natural, para outros pode representar uma verdadeira dor de cabeça e afetar psicologicamente a sua vida. A garantia é dada ao SOL pelo presidente do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas (SBSI), Rui Riso.
Por isso mesmo, a estrutura sindical começou este mês uma campanha que inclui diversas ações, nomeadamente um inquérito aos bancários, projetado pelos professores do ISCTE, com o objetivo de analisar um conjunto de aspetos da vida profissional, nomeadamente os riscos psicossociais. «Têm passado pelo sindicato situações muito complicadas devido à instabilidade e ao ambiente que se vive na banca. Não digo que as pessoas estejam descompensadas, mas, pelo menos, estarão perturbadas», confessa o presidente.
A verdade é que estes problemas não são de agora. Os últimos dados europeus – em que Portugal estava incluído – apontam o stresse, a má organização do trabalho, ritmos intensivos, violência de clientes, assédio laboral como os principais riscos psicóticos que põem em causa a saúde e o bem estar de quem trabalha, podendo originar acidentes ou doenças profissionais. Aliás, de acordo com os referidos dados, o setor bancário em Portugal é o mais atingido por problemas do foro psicológico, com menos qualidade de vida familiar e de lazer.
Estes problemas poderão ganhar novos contornos depois de ter sido revelado que recentemente, um bancário do BPI se suicidou com um tiro de caçadeira dentro das instalações do BPI na rua Braamcamp, em Lisboa, onde trabalhava. Para já, ainda não são conhecidas as razões que levaram um homem de 51 anos a fazer isso, apesar da instituição financeira afastar qualquer tipo de conflito com o trabalhador. «Não estava em processo de despedimento», afirmou o banco, dizendo ainda que o bancário desempenhava funções de «responsabilidade comercial», e que tinha feito um «pedido de transferência» que tinha sido aceite. «A iniciativa foi dele e não nossa», sublinhou o porta-voz do BPI. «Não há nenhum motivo para encontrar uma razão objetiva para o que aconteceu», acrescentou.
Lidar com a pressão
Rui Riso admite que as condições dos funcionários não eram 100% perfeitas, mas foram-se degradando nos últimos anos. «Como todos nos lembramos até há poucos anos a banca era sólida, podia não se ganhar assim tanto quanto isso, mas havia estabilidade. O que é que acontece de um momento para o outro? Em oito ou nove anos perdemos mais de 20% dos bancários. Perdemos não só por saídas naturais, mas também devido a pressões para que os trabalhadores se fossem embora porque o banco estava fechar», diz.
Esta instabilidade acaba por ter inevitavelmente influência na vida dos trabalhadores. «As pessoas trabalham, têm projetos de vida e, de um momento para outro, começam a ver tudo instável, a ver o seu colega a ser chamado para o mandarem embora, são pressionados com os objetivos de vender o produto financeiro A ou B, muitas vezes sem saberem o que é que realmente os produtos são, alguns deles sem terem regulação e depois a exigência permanente para saberem porque é que os produtos não foram vendidos. Esta pressão não é pacífica para toda a gente», acrescenta o responsável.
Para Rui Riso, o lançamento deste inquérito para saber a opinião dos bancários vem em boa altura, como também teria vindo se tivesse sido levado a cabo desde há uns anos para cá. «Vinha sempre numa boa altura, pelo menos de há uns cinco anos para cá, com a história do BES, do Banif, com o que se passou com os outros bancos em matéria de redução de pessoas, como é o caso do BCP e do BPI e também devido à própria pressão das instituições europeias para os bancos reduzirem dimensão enquanto outros ganham mercado e qualquer dia estamos nas mãos de dois ou três bancos e depois é mais fácil fixar preços e cobrar comissões. É preciso saber em que estado estão os trabalhadores», lembra.
Clientes também são problema
Lidar com clientes difíceis também não ajuda nesta equação. O Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas lembra a pressão e até a violência por parte de clientes a que estiveram sujeitos os bancários do Novo Banco após o colapso da instituição financeira.
«Quase uma em cada dez empresas que querem ter de enfrentar clientes difíceis ou a pressão dos prazos afirmam não dispor das informações ou ferramentas adequadas para fazer face ao risco de forma eficaz, o que demonstra que os fatores de risco psicossociais são percecionados como sendo mais difíceis de gerir que os riscos tradicionais», revela a estrutura sindical.