As hostes sociais-democratas não estão contentes com a forma como Pedro Passos Coelho está a gerir o processo das autárquicas. E não é só em Lisboa. No PSD, já todos se preparam para um desastre eleitoral e há quem afie facas, mas só para depois das eleições. Pela primeria vez, há quem espere que Passos Coelho saia pelo próprio pé depois do desaire eleitoral.
“Mais do que desânimo, há descontentamento”, nota ao i um destacado social-democrata, que diz que o partido não está a entender a forma como o líder relegou as autárquicas para segundo plano. “Em todo o país, e como é natural, há focos de tensão e distritais problemáticas e é normal os líderes intervirem para apaziguar os ânimos. Passos pôs-se totalmente à margem”, nota a mesma fonte. “É um erro e foi avisado várias vezes para os riscos, sobretudo por o PSD ser um partido autárquico. Mas nós já sabemos como ele é”, lamenta o social-democrata.
“Passos assentou toda a sua estratégia na ideia de que um colapso económico-financeiro ajudaria o PSD a regressar ao poder e descurou as autárquicas. A nível nacional quis deixar tudo nas mãos do aparelho e afastou-se do processo. Foi um erro”, analisa outro social-democrata.
Mapa a Vermelho
Olhando para o mapa autárquico, os sociais-democratas têm motivos para preocupação. É notório o descontentamento em Lisboa com o nome de Teresa Leal Coelho, aprovado ontem na comissão política distrital. Mas há outros problemas: o candidato ao Porto é um quase desconhecido e em cidades como Gaia, Odivelas, Leiria, Santarém, Portalegre, Coimbra e Matosinhos há muitas dúvidas sobre as possibilidades de uma vitória.
Nos bastidores, há quem veja na forma atribulada como foi conduzido o processo autáquico a prova de que Pedro Passos Coelho atirou a toalha ao chão. “Parece que está a fazer de propósito para perder”, aponta um dirigente, enquanto outra fonte o vê “desanimado”.
A escolha de Teresa Leal Coelho para Lisboa foi lida como um sinal do seu isolamento. Amiga próxima de Passos, Leal Coelho está longe de animar o partido em Lisboa, apesar de durante todo o fim de semana se terem multiplicado as declarações públicas de apoio à candidata escolhida pelo líder. “É a nossa candidata e vou lutar para que ganhe”, diz ao i o líder da concelhia lisboeta, Mauro Xavier, depois de ter criticado publicamente um processo que o fez saber pelos jornais o nome escolhido por Passos.
Aquilo que agora é descontentamento pode, depois das autárquicas, transformar-se em contestação, mesmo que para já os críticos da liderança não queiram queimar etapas. Neste momento, ninguém quer aparecer na fotografia a desafiar o líder e a prejudicar o PSD em vésperas de eleições. Mas o cenário pode mudar logo a seguir.
“É óbvio que as autárquicas terão de ter consequências a vários níveis. No caso de Lisboa, consequências na concelhia, na distrital e na direção nacional”, aponta ao i o crítico Pedro Rodrigues, que acha que “a responsabilidade da escolha do candidato a Lisboa não é só do presidente do partido” e que essa análise terá ser feita depois de contados os votos.
As movimentações de bastidores para uma mudança na direção parecem por agora em suspenso até ao day after. Mas só parecem. Na sombra, já se afiam facas.
Passos Coelho continua a ser o líder que ganhou as legislativas e – como nota um destacado social-democrata – “não há o sentimento de correr com ele”, mas é notória a vontade de um novo rumo para o partido.
Santana está por aí?
Com este pano de fundo como cenário, um post de Pedro Santana Lopes ontem no Facebook agitou águas. Santana partilhou uma série de artigos sobre a polémica que tem mantido com Jorge Sampaio a propósito da sua demissão do lugar de primeiro-ministro e concluiu com a partilha de um texto de opinião do “JN” que especula sobre o seu putativo regresso à liderança.
Ao i, fonte próxima de Santana garante que para já se tratou apenas de uma espécie de “clipping de imprensa” feito pelo próprio. Mas não desagrada ao provedor da Santa Casa a ideia de que continua por aí. “Se houver uma hecatombe, Santana pode regressar”, assegura a mesma fonte, que garante que o único cenário que está fora de causa é o de aparecer a desafiar Passos Coelho como líder. Caso, Passos saia pelo próprio pé, as coisas mudam de figura.
Para já, Santana faz o mesmo que outras figuras que podem vir a posicionar-se como alternativas para o pós-Passos: espera para ver o que vem a seguir. Ninguém quer dar um passo em falso, mas todos fazem contas de cabeça.