Votações repetidas, queixas de pressões, acusações de terrorismo político e agora até uma queixa à Procuradoria-Geral da República: tem havido de tudo no processo de indicação do candidato do PSD à Câmara de Matosinhos. Mas, até agora, Pedro Passos Coelho tem resistido aos apelos locais para intervir na questão.
À medida que o clima de guerra se instala em Matosinhos, resta saber até quando Passos Coelho poderá continuar à margem de um processo que nasceu atribulado e parece cada vez mais complicado.
Joaquim Jorge, o candidato convidado pelo líder da concelhia, já foi a votos quatro vezes. Depois de dois empates, o presidente da concelhia, António José Barbosa, resolveu usar o seu voto de qualidade para desempatar, mas a decisão levantou dúvidas na distrital do Porto.
Cumprindo as instruções de Bragança Fernandes, o líder da distrital do Porto, António José Barbosa fez nova votação “secreta” – como o próprio assegura ao i – no dia 26 de março. O nome independente Joaquim Jorge foi aprovado com nove votos a favor e sete contra.
Podia parecer que a novela tinha tido aí o seu desfecho, mas entretanto surgiu uma queixa anónima na Procuradoria-Geral da República, ontem noticiada pelo “Público”.
Na queixa denunciam-se alegadas pressões para alterar o sentido de voto e aprovar o nome do fundador do Clube dos Pensadores.
Ao i, António José Barbosa assegura que essas queixas “não têm qualquer fundamento” e nota que apenas um dos elementos da concelhia alterou o seu sentido de voto na última votação.
Joaquim Jorge também nega alguma vez ter enviado um email intimidando Bragança Fernandes a apoiá-lo sob pena de revelar dados menos abonatórios sobre o líder da distrital do Porto. “Não tenho falado com Bragança Fernandes. O que lhe disse foi através dos jornais”, afirma o independente ao i, assegurando que “respeitará” a decisão da distrital, qualquer que ela seja.
O problema é que ainda não há data para que a distrital se pronuncie sobre este processo e dê – ou não – o aval à candidatura de Joaquim Jorge.
Sem reunião marcada até agora, o processo deve ficar parado pelo menos até depois da Páscoa. Depois disso, não é claro que rumo tomará, uma vez que a distrital ainda não deu indicações do sentido em que poderá deliberar.
António José Barbosa, que já falou em “terrorismo político” para classificar a atuação de alguns elementos da concelhia, não tem dúvidas de que o que se está a passar em torno da candidatura a Matosinhos tem outros objetivos.
Lutas internas
“Isto tem que ver com lutas internas dentro do partido”, diz Barbosa, que recusa falar em nomes, mas aponta o dedo a “um grupo que há mais de dez anos controla a distrital do Porto”.
Para o líder da concelhia social–democrata de Matosinhos, a atitude “é lamentável” por fragilizar o partido e acontecer “num momento particularmente difícil da vida interna do PSD”.
António José Barbosa nunca o diz claramente, mas o pano de fundo para este clima de guerra em Matosinhos é também a agitação interna que já se faz sentir no partido com a cada vez mais fragilizada liderança de Pedro Passos Coelho.
O líder tem, aliás, sido muito criticado por se ter mantido à margem das questões autárquicas, mesmo quando os próprios pediam a sua intervenção. Está por ver se consegue manter esta atitude até ao fim, depois de ter falhado o prazo de ter o processo autárquico completamente fechado até ao final de março. Agora, a nova data expira a meados de abril e já não falta muito para lá chegar.