No primeiro aniversário da revolução dos cravos sem Mário Soares, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, não esquece o antecessor.
Ao i, Marcelo lembra que “três dos quatro pais da democracia civil já partiram, e um deles há poucos meses, mas o espírito do 25 de Abril nunca partirá”. Recentemente, o chefe de Estado afirmou mesmo que “Soares foi o maior e melhor de todos nós”.
É o primeiro Abril sem o príncipe de Abril, e ele ainda cá está.
Abril que continua a ser amanhã No estudo da História, debate-se frequentemente a data a que terminam as revoluções.
Se a revolução francesa de 1789 terminou com o diretório, com Napoleão ou com o regresso à monarquia, em 1815. Se a revolução americana terminou com a independência ou se apenas foi concretizada após a guerra civil entre o norte e o sul. Se a revolução bolchevique morreu com Lenine ou se perdurou enquanto houve Muro.
Há historiadores que preferem resumir as revoluções ao dia, ao ano. O 25 de Abril, por aí, não diverge. Se Abril terminou em 74 ou em 75, do 11 de março ao 25 de novembro, é outra matéria de debate.
Saber quando é que acaba uma revolução talvez seja a questão mais fulcral para compreender o seu significado – o seu impacto na respetiva sociedade.
Para João Pereira Coutinho, professor na Universidade Católica, “no caso do 25 de Abril, marca o fim de uma ditadura mas inicia um processo revolucionário que só conheceu o seu fim depois do 25 de Novembro de 1975”.
Amanhã, celebra-se então a morte do Estado Novo e a abertura da porta para a democracia.
Ao telefone, o embaixador Francisco Seixas da Costa sorri sobre esse tempo. “Partilhava todos os ideais que a minha idade à época permitia. Havia uma mistura de entusiasmo com alguma irresponsabilidade, cujo o saldo é claramente positivo”, vaticina o diplomata, que era militar e foi adjunto da Junta de Salvação Nacional.
Fernando Rosas, historiador que viveu a época, lembra ao i que, para a sua geração, “foi o primeiro dia do resto das nossas vidas”.
João Soares, resume o 25 de Abril numa só palavra: “Liberdade”. “E com ela a tolerância e a paz – haverá sempre quem defenda estes valores”, sustenta o político socialista. A liberdade que o homem que fotografou Salgueiro Maia diante dos tanques diz ser “total”. Ao i, Alfredo Cunha admite que “as pessoas nem sabem o que era, o quão mau era, viver sem liberdade”.
“O resto das nossas”, “haverá sempre” – ainda há uma aura de eternidade, de amanhã, na celebração de Abril.
O fim do isolamento, diz ministro
Augusto Santos Silva, também ao i, salienta a importância da data em que “Portugal quebrou o isolamento internacional a que a ditadura o tinha sujeito”.
Para o ministro dos Negócios Estrangeiros, o país “passou a afirmar-se como uma nação comprometida com os ideais da paz e do desenvolvimento, cujo valor não mais cessou de aumentar”.
Assunção Cristas, a líder do CDS-PP, descreve Abril como sinónimo de “liberdade conquistada”, mas adianta ao i que o “desenvolvimento económico e social ainda tem muito trabalho para fazer”.
O Partido Social Democrata reservou-se a um texto na sua newsletter diária, em que José Matos Rosa, o secretário-geral escreve que “Portugal merece ter governantes corajosos, como foram corajosos aqueles que fizeram, outrora, a Revolução”.
Os quatro pais
Os quatro pais da democracia civil não deixam de ser lembrados e o Partido Socialista tem organizado homenagens que mantém acesa a herança de Mário Soares na democratização do regime e da revolução.
Amanhã, num tempo em que o parlamento está mais crispado que a rua, ambos celebram a mesma liberdade.
Abril mesmo depois de perder o seu príncipe, continua a representar futuro.