O primeiro-ministro está excessivamente cuidadoso com o próximo Orçamento do Estado para o gosto dos seus parceiros de esquerda.
Depois das declarações de António Costa segundo as quais não havia “folga” nas negociações do Orçamento além do “progresso sustentável”, a líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, mostrou algum enfado com aquilo a que chamou “os estados de alma” do primeiro-ministro. Estados de alma que, aliás, diz “não compreender”.
Também o PCP, em declarações à Lusa, afirmou que “as limitações que o governo impõe a si próprio são conhecidas” mas “para o PCP o que se impõe é que o Orçamento do Estado de 2018 dê passos nítidos no caminho da defesa, reposição e conquista de direitos e rendimentos”.
Para o Bloco, a linha é a mesma. Depois de Costa ter dito que recusava “dar um passo maior do que a perna”, Catarina Martins respondeu: “O problema que se põe sobre as restrições e o tamanho do passo” já foi utilizado “vezes demais”. Para a líder do Bloco de Esquerda, “o discurso sobre os passos maiores do que a perna, ou as restrições, às vezes esconde um que é sobre as escolhas”. E são as escolhas de António Costa e de Mário Centeno que agora tanto BE como PCP estão a pôr em causa.
“Diziam-nos que se não cortássemos 600 milhões nas pensões era uma desgraça. O PS dizia ‘tudo bem, não cortamos 600 milhões, mas congelamos e com isso poupamos 250 milhões de euros. Provámos que era possível fazer diferente e, na verdade, o aumento das contribuições para a Segurança Social por via da criação de emprego prova como foi importante ter passos determinados para melhorar a economia”, lembrou Catarina Martins.
Na quarta-feira, depois de uma reunião com o grupo parlamentar do Partido Socialista, o primeiro-ministro foi cauteloso q.b. sobre o Orçamento para 2018. Admitiu que o texto sobre o qual governo e parceiros de esquerda estão a trabalhar refletiria “um progresso sustentável”, mas seria “prudente”. E disse taxativamente: “Não há folga” e “não podemos correr o risco de dar um passo maior do que a perna”. Estas duas frases desagradaram aos parceiros de esquerda.
Mas António Costa pareceu determinado em que para criar “confiança” e “afastar o espetro dos diabos que alguns imaginaram”, tem que se manter o que defende como linha justa. “Temos que continuar este caminho com prudência, ambição e com um grande rigor”, disse.
O Orçamento do Estado vai ser entregue a 13 de outubro na Assembleia da República – o acordo não precisa de estar completamente fechado, mas convém que esteja. As reuniões entre governo e os partidos de esquerda têm sido constantes mas entre o pacote de exigências do PCP e do Bloco de Esquerda e aquilo que o governo se mostra disposto a aceitar ainda vai um passo maior do que a perna. Seja qual for o resultado, um desentendimento é improvável.