O diabo apareceu a Passos Coelho depois do terramoto que atingiu o PSD

Líder social-democrata admite não se recandidatar a novo mandato e decisão deve ser comunicada amanhã no Conselho Nacional do PSD

Passos Coelho sempre esperou que o diabo e o inferno atingissem em força o governo da geringonça devido às suas políticas económicas e financeiras. Não aconteceu. Mas eis que o dono dos infernos não gostou de ver o seu nome usado tantas vezes em vão que decidiu atingir em cheio o líder do PSD nas eleições autárquicas. E com uma violência que ultrapassou todas as expectativas, mesmo as mais pessimistas. Com efeito o PSD teve o seu pior resultado autárquico de sempre e sofreu dois verdadeiros terramotos em Lisboa e Porto. 

Perante este cenário calamitoso, Passos Coelho entrou em períodos de reflexão e admitiu ontem à noite a possibilidade de não se recandidatar a novo mandato, o contrário do que tinha afirmado há dias quando garantia que iria apresentar-se como candidato no próximo congresso.

Derrota da CDU

Nos braços de Passos Coelho bem podia cair Jerónimo de Sousa que viu a sua CDU perder nove a dez câmaras para o PS. Um verdadeiro desastre com as derrotas em Constância, Castro Verde, Beja, Moura, Barreiro e Alcochete e Almada, grande bastião comunista, entre outras. Do desastre eleitoral salvou-se o resultado de João Ferreira em Lisboa, fraca consolação bem visível no ambiente pesado que se viveu ontem à noite Soeiro Pereira Gomes.

E a geringonça?

Além da derrota eleitoral, o PCP vai com certeza analisar no seu Comité Central os resultados e a sua posição na geringonça. Na realidade, o único partido que beneficiou com a solução governativa foi claramente o PS, que obteve o seu melhor resultado autárquico. Esta realidade irá com certeza pesar e de que maneira na forma como o PCP vai desde já encarar as negociações do Orçamento do Estado para 2018. Resta saber se a voz grossa de Jerónimo de Sousa será suficiente para calar internamente as vozes críticas e convencer o vitorioso António Costa a fazer concessões aos comunistas no Orçamento.

Maioria absoluta em 2019  António Costa ganhou em toda a linha as eleições autárquicas e tem agora dois anos para sonhar com a maioria absoluta em 2019. Uma maioria absoluta que terá de guardar dentro da cabeça para não extremar os seus parceiros da geringonça, ambos derrotados nas autárquicas e claramente dispostos a inverter a situação nestes dois anos, a começar no Orçamento do Estado para 2018. Se António Costa entrar em euforia, poderá ver Jerónimo de Sousa e Catarina Martins endurecer posições e, quem sabe, porem mesmo em causa a geringonça antes das legislativas numa última tentativa de evitarem novas derrotas em 2019 e verem o PS sozinho no poder com maioria absoluta.

Um BE muito cinzento

É que o Bloco de Esquerda, sempre muito entusiasta da geringonça, também é dos dois parceiros o mais instável e dado a reviravoltas políticas surpreendentes. Particularmente depois de um resultado autárquico triste, em que apenas se salvou a eleição de um vereador em Lisboa. Falhou a eleição de um representante no Porto e a reconquista da câmara de Salvaterra de Magos, para além da esperança de ganhar outros municípios. 

Se os estrategos do BE entenderem que é preciso cortar o caminho ao PS e ao governo, então esta histórica vitória socialista pode ser uma camisa de sete varas para o PS nos próximos dois anos, com Catarina Martins na linha de fogo dos seus críticos.

A senhora da direita

Assunção Cristas jogou e ganhou. A aposta em Lisboa foi uma estrondosa vitória que lhe permite afastar de vez o espetro de um ataque dos portistas. Ganhou legitimidade interna e tem agora o espaço da direita à sua disposição com o PSD em crise à procura de novo líder. O CDS tem agora a grande oportunidade de se afirmar como um grande partido de direita, até porque a nova liderança do PSD tentará retomar a linha social-democrata e abandonar a linha liberal dos tempos de Passos Coelho. Mas se o caminho de Assunção Cristas for colocar o CDS no centro, então poderá mais uma vez perder uma grande oportunidade de ocupar de forma determinante um espaço político que se mantém órfão de pai e mãe em Portugal. E sempre que o CDS escolheu o centro e tentou encostar-se ao PS acabou num táxi.