Há dois anos, a possibilidade de Carlos César ser presidente da Assembleia da República esteve em cima da mesa. O assunto foi discutido entre o presidente do PS e o secretário-geral, António Costa – que optou por convidar Ferro Rodrigues para assumir o cargo, deixando a Carlos César o lugar de líder parlamentar.
Mas, segundo o SOL apurou entre várias fontes do PS, Carlos César deverá ser o candidato ao cargo em 2019, no caso de vitória nas legislativas, para que apontam as sondagens atuais, embora em dois anos muita coisa possa acontecer. Neste caso, Ferro Rodrigues faria apenas quatro anos como presidente da Assembleia da República, cedendo o lugar a outro socialista.
António Costa convenceu Carlos César a aceitar a presidência do PS – um cargo que sempre foi de caráter honorífico – sob o argumento de que, com Costa secretário-geral, o presidente do partido teria funções mais ‘executivas’. Na realidade, se excluirmos aqueles primeiros seis meses da liderança de Costa, o cargo de presidente do PS manteve-se como sempre foi – honorífico e simbólico. Na estrutura do PS, quem ocupa o cargo executivo a seguir ao secretário-geral é a secretária-geral adjunta Ana Catarina Mendes.
Também o cargo de líder parlamentar, que foi apresentado a Carlos César como decisivo por causa das negociações com a geringonça, não tem revelado ser de uma importância vital – afinal, as negociações com o Partido Comunista Português e o Bloco de Esquerda são feitas principalmente com o secretário dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, que é na realidade o verdadeiro pivô da ‘geringonça’ no Parlamento. De resto, os partidos que apoiam o Governo discutem também com o primeiro-ministro e com o ministro das Finanças.
Assim, Carlos César, que foi um dos principais apoiantes de António Costa na sua ascensão a líder do PS, acabou por ficar com um papel que a própria dinâmica da ‘geringonça’ demonstrou não ser de importância fundamental. Pior: sendo que o homem faz o cargo, muitos socialistas contactados pelo SOL consideram que César mostra paixão quase nula pelo seu papel atual.
Não é que Carlos César não tenha importância na estrutura da ‘geringonça’ – participa nas reuniões de coordenação política onde, segundo o SOL apurou, tem intervenções que revelam experiência política superior a outros.
A coisa pode perceber-se melhor se registarmos um certo sentimento português traduzido no velho provérbio que diz que muitas pessoas não gostam de ‘passar de cavalo para burro’. A sentença pode não ser válida para um grande número de cidadãos, capazes de ocupar diferentes postos profissionais e políticos ao longo da sua carreira imunes ao sentimento de tristeza ao passar ‘de cavalo para burro’. Mas tudo indica que o sentimento de Carlos César está mais próximo do provérbio.
«Carlos César só se mantém líder parlamentar do PS porque vai ser presidente da Assembleia da República na próxima legislatura», diz um socialista destacado ao SOL.
Depois de ter sido todo-poderoso nos Açores durante 16 anos – onde ocupou o cargo de presidente do Governo Regional dos Açores entre 1996 e 2012 -, a entrada na vida política do ‘continente’ acabou por transformar Carlos César numa personagem mais secundária do que a vitória de Costa dentro do PS poderia prever.
A ascensão de César a presidente da Assembleia viria ‘corrigir’ essa falha de Costa para um dos seus apoiantes de primeira hora com peso interno. E retomaria uma tradição de dar aos Açores a presidência do Parlamento: tal como Carlos César, os ex-presidentes da AR João Bosco Mota Amaral e Jaime Gama também nasceram na ilha de São Miguel.