Os dias da ira prosseguem, os confrontos violentos alastram a outros países e amontoam-se também os feridos causados pelos protestos do mundo islâmico contra o reconhecimento americano de Jerusalém como capital de Israel. O exemplo mais drástico deste domingo ocorreu em Beirute, onde várias centenas de pessoas protestaram em frente à embaixada americana contra a decisão anunciada na semana passada pelo governo de Donald Trump, contra os alertas e a vontade da comunidade internacional.
Os protestos deste domingo na capital libanesa deram-se de forma pacífica até ao final da manhã. Centenas brandiam bandeiras da Palestina e insultavam Israel e o presidente americano, até que algumas dezenas se lançaram contra as vedações de ferro e arame farpado da embaixada, lançando pedras contra as forças de segurança, que as dispersaram com recurso a gás lacrimogéneo e balas de borracha. Entre os ataques populares e a resposta dos militares, cerca de 50 pessoas acabaram feridas. Ao início da tarde, o Hezbollah, a organização armada xiita que desempenha uma função vital na política do país, convocou novos protestos para hoje em Beirute.
Num passo ao lado, em Jerusalém, no centro da crise e onde as manifestações se têm diluído desde a sua eclosão, na sexta-feira, um palestiniano de 24 anos esfaqueou um militar israelita no peito no momento em que cruzava um checkpoint de segurança da mais movimentada estação de autocarros da cidade. O atacante foi detido e o soldado estava este domingo hospitalizado e em estado crítico. No sábado, o suspeito, Yasin Abu al-Qur’a, natural de uma aldeia na Cisjordânia, escreveu no Facebook um texto dizendo que o sangue muçulmano é “irrelevante” comparado com o valor da defesa da “pátria”, “Jerusalém” e a mesquita “al-Aqsa”.
De facto, os protestos têm-se atenuado em relação a sexta-feira, mas não dão sinais de estarem para terminar. O Hamas, o grupo radical islamista palestiniano, pediu este domingo mais sete dias de ira, o que praticamente assegura que em Gaza, principalmente, mas também na Cisjordânia, as manifestações e confrontos prosseguirão, como se verificou este domingo, aliás. As manifestações fora de Israel e Palestina também não dão sinais de se desvanecerem: saíram vastas multidões às ruas de Istambul, Lahore e Karachi, por exemplo. “Isto diz respeito ao islão”, afirmava este domingo Reyhan Akca, em Istambul, falando ao “Middle East Eye”. “Não é sobre partidos políticos!”
No plano diplomático houve também nova vaga de revolta. Os países da Liga Árabe apresentaram este domingo de madrugada um comunicado saído do encontro de última hora no Cairo, dizendo que a decisão retira os Estados Unidos do processo de paz entre israelitas e palestinianos. A manobra de Trump, diz a mensagem, assinada por vários aliados americanos no Médio Oriente, “aprofunda as tensões, atiça a fúria e ameaça mergulhar na região em mais violência e caos”. O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, afirmou além disso que, afinal, não vai receber o vice-presidente americano, como estava previsto para este mês.