Depois de ter forçado um travão na adesão portuguesa à PESCO (cooperação de defesa europeia), obrigando o Governo a rejeitar a possibilidade de um exército comum, o PSD voltou a negar ímpetos federalistas na Europa.
Em resposta ao discurso em que Martin Schulz, líder do PS alemão, pediu a instituição de uns Estados Unidos da Europa até 2025, expulsando da União Europeia qualquer Estado-membro que não assinasse um tratado federal, o PSD propôs ontem um voto parlamentar de condenação.
Apesar de todos os partidos com assento parlamentar terem, na semana passada, criticado Schulz pela sua posição, tomada em congresso partidário e durante negociações para uma coligação de Governo com Angela Merkel, o PS e o Bloco de Esquerda votaram contra a condenação do PSD, que mesmo assim viu o seu voto aprovado devido à abstenção do PCP.
Segundo o voto dos sociais-democratas, «europeus e portugueses foram surpreendidos por esta posição radical» do antigo presidente do Parlamento Europeu.
«Quero um novo tratado constitucional para estabelecer os Estados Unidos da Europa», afirmou Schulz. Um «rascunho» seria feito «em cooperação próxima com o povo e com a sociedade civil». Os «resultados», propõe Schulz, «seriam depois submetidos a todos os Estados-membros» e «qualquer Estado que não ratificasse este tratado sairia automaticamente da União Europeia». Nigel Farage, eurocético britânico, ironizou de volta: «Se é este o caminho que vão seguir, poderá ser uma União Europeia bem pequena!».
Do lado do partido do Governo (PS), o deputado Vitalino Canas considerou que o defendido por Martin Schulz «foi ligeiramente fora de tom». «É uma ideia que não merece ser olhada como uma opção séria», vaticinou o parlamentar socialista. «A opção federalista está muito mais distante do que já esteve no passado. É claro que existem federalistas na Europa e também em Portugal, mas não vale a pena andarmos de um lado para o outro. Não há contexto político interno ou na Europa para a opção federalista: em Portugal, ainda é muito minoritário, pouco viável. Interessante do ponto de visto teórico e académico, mas pouco viável», concluiu, em declarações ao SOL, salientando a saída do Reino Unido, a crise migratória e algum ceticismo da Europa de leste em relação ao projeto europeu como entraves à ideia de Schulz.
O PSD também descartou o discurso do líder do SPD, considerando as declarações «disparatadas». «Caso tivessem alguma sequência, provocariam a maior fratura na história da União Europeia», disse ao i o deputado Miguel Morgado, vice-presidente do grupo parlamentar. «Vêm dar ainda mais razão ao PSD por ter insistido em linhas vermelhas para a PESCO», lembrou, na medida em que os sociais-democratas exigiram ao governo que rejeitasse qualquer desenvolvimento da Cooperação Estruturada Permanente de defesa europeia para um exército comum europeu.
O CDS, na voz de Pedro Mota Soares, lembra que a proposta de Schulz incorre em ilegalidade de acordo com os tratados europeus. «O federalismo é uma ideia que já morreu muitas vezes. Esta ideia, que é da responsabilidade um socialista alemão [Martin Schulz], não deixa de ser ligeiramente tonta. A exclusão automática de Estados-membros vai contra os tratados», afirma o centrista.
Marisa Matias, eurodeputada do Bloco de Esquerda, também aponta a «formulação incorreta da proposta». «Qualquer que seja o destino da Europa, não depende da vontade exclusiva do sr. Schulz. Depende da vontade dos povos e dos governos europeus e não é uma fuga para a frente que resolve o problema. Schulz teve a sua oportunidade enquanto presidente do Parlamento Europeu e não fez nada fez nesse sentido», relembra. «Não é agora e à margem das instituições e da vontade popular que tem condições para impor o que seja», remata a antiga candidata presidencial.