A violência regressou este fim de semana ao Iémen, onde se trava há três anos uma guerra com arranques e paragens na qual nunca se deixou de morrer – quando não com bombas, com disenteria, cólera, fome ou sede.
Rebeldes separatistas do sul do país, considerados até agora aliados do governo internacionalmente reconhecido e apoiado pela Arábia Saudita, fraturaram de vez no domingo com o presidente Abd Rabbu Mansour Hadi, invadiram nesse dia a cidade portuária de Áden e esta terça-feira, ao fim de combates de rua nos quais morreram mais de 30 pessoas, já tinham o palácio presidencial cercado. No seu interior encontram-se o primeiro-ministro iemenita e várias figuras importantes do governo parcialmente exilado em Riad.
O desenvolvimento deste fim de semana faz regressar o estado da guerra ao ponto onde se encontrava antes da intervenção militar da Arábia Saudita e da coligação de países árabes que combateram nos últimos dois anos os rebeldes xiitas huthis, afastando-os do sul do país e contendo-os nos seus vastos territórios do norte do Iémen, muito à custa de ataques aéreos indiscriminados contra civis – a ONU, já sob muitas críticas, introduziu no ano passado o governo saudita numa lista negra de países responsáveis pela morte de crianças em climas de guerra.
Os rebeldes que esta terça cercaram o palácio presidencial em Áden, no entanto, não são os huthis do norte: trata-se do braço armado do Conselho Transicional do Sul, a organização de separatistas que pretende que o país se volte a dividir entre o Iémen do Norte e o Iémen do Sul, tal como acontecia até ao ano 1990.
O grupo justifica-se dizendo que está agir contra a “corrupção descontrolada” do governo de Hadi e que, argumentam, tem resultado numa “deterioração da situação económica, social e de segurança nunca antes vista na história do sul”. O governo de Hadi vê-se de novo forçado a pedir ajuda à Arábia Saudita para deter sequer uma nesga do território.
Os pelo menos 36 mortos e mais de cem feridos provocados pelos confrontos destes últimos dias somam-se àquele que é considerado o maior desastre humanitário no mundo. A ONU vem alertando há meses para o vasto surto de cólera no país e que no final do ano passado já contaminara à volta de um milhão de pessoas.
Há falta de material médico, de alimentação e água potável e a Al-Qaeda e outras organizações extremistas ocupam com muita liberdade o sul do país. “A situação no Iémen – hoje, agora mesmo, no que diz respeito à sua população – parece a do Apocalipse”, dizia no início deste mês Mark Lowcock, o coordenador do gabinete dos Assuntos Humanitários das Nações Unidos (ACNUR).